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RUY CASTRO
Facções de guerra
RIO DE JANEIRO - Em 1942, o
baiano residente no Rio e Flamengo roxo Jaime de Carvalho reuniu
seus amigos rubro-negros do Méier
e formou um grupo para irem torcer nos estádios. Sua mulher, Laura, costurou-lhes as primeiras faixas, bandeiras e camisas. Alguns
eram músicos amadores e levaram
seus trompetes e tambores para tocar marchinhas de Carnaval e o hino do Flamengo.
Ary Barroso ouviu-os e disse que
aquilo não era uma banda, mas uma
charanga, de tão desafinada. Jaime
e Laura adotaram o nome Charanga
e passaram a bordá-lo sob a âncora
e os remos nas camisas e bandeiras.
Nascia a primeira torcida organizada do futebol brasileiro. Logo a
Charanga teria músicos profissionais e Jaime se tornaria também o
chefe de torcida da seleção brasileira. Foi ele quem puxou o "Touradas
em Madri" no 7 a 1 contra a Espanha, no Maracanã, na Copa de 1950.
Quase ao mesmo tempo surgiram
as outras torcidas: a do Vasco, comandada por Dulce Rosalina; a do
Fluminense, por Paulista; a do Botafogo, por Tarzan; as dos clubes de
São Paulo. Seus líderes se estimavam, e a disputa era para ver quem
gritava ou cantava mais forte no estádio. À ameaça de uma briga na arquibancada um deles entrava em
ação e a turba se pacificava.
As coisas começaram a mudar
nos anos 60, com a aposentadoria
ou a morte dos antigos chefes e o
surgimento das torcidas jovens e
suas dissidências. Uma característica das novas torcidas era vaiar cartolas, técnicos e jogadores de que
não gostassem. Daí a acordos com
facções políticas dentro dos clubes
foi um passo. E, por fim, elas próprias, de todos os clubes, se tornaram facções de guerra, armadas para agredir, destruir e matar.
Jaime de Carvalho morreu em
1976, aos 65 anos; dona Laura, em
outubro último, aos 88. Longe o
tempo em que suas bandeiras
torciam por amor.
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