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A NOVA FITA
Dá margem a mais de uma leitura o diálogo travado entre o
subprocurador da República José
Roberto Santoro e o empresário de
jogos Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em fita que veio à tona anteontem. É elementar que a interpretação mais conveniente para o Planalto -e já assumida sem hesitações por muitos- é a de que Santoro
teria admitido estar deliberadamente
empenhado em golpear o ministro
José Dirceu e o governo petista.
Como a gravação indica, Santoro
tentava "legalizar" a fita de vídeo que
acabou em mãos da revista "Época",
contendo a famigerada conversa de
Waldomiro Diniz com Carlos Ramos. Ao pressionar Cachoeira para
entregar-lhe a gravação, o subprocurador avisa que seu chefe, o procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, estaria por chegar e, se isso
ocorresse, iria considerar que ele,
Santoro, estaria ali de madrugada
em maquinações com o intuito de
"acabar com o governo Lula".
O fato de o subprocurador acreditar que seu superior hierárquico reagiria de tal forma não se confunde
com a admissão de que seu real propósito seria atingir o governo. Fica,
sem dúvida, a suspeita de que assim
poderia ser, mas a confirmar-se em
apuração mais aprofundada do episódio -que precisa ter lugar.
Não é apenas essa passagem a exigir esclarecimentos. O subprocurador faz também equívoca menção à
hipótese de a fita de vídeo, no caso de
ser apreendida pela Polícia Federal,
acabar em mãos do ministro da Justiça e, por conseguinte, de seu colega
Dirceu e do presidente da República.
Além disso, mesmo que não se
possa extrair da conversa a convicção
de que Santoro preparava uma armadilha para o governo, não deixa de
causar estranheza o fato de que tenha
agido em questão tão sensível sem
avisar o procurador-geral. Talvez o
conhecido alinhamento de Fontelles
com os interesses do Planalto tenha
pesado na decisão.
A nova fita reforça as apreensões já
generalizadas quanto à excessiva politização do Ministério Público. Antes, eram os petistas acusados de
manipular escândalos; agora, são
seus oponentes. É exatamente pelo
fato de estar sempre sujeito a ser acusado de agir movido por interesses
políticos que o MP precisa atuar de
forma irrepreensível.
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