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CLÓVIS ROSSI
Um país-piada
SÃO PAULO - Em qualquer lugar
do mundo, empresas aéreas chamam os clientes para os aeroportos,
únicos lugares dos quais podem decolar os aviões. Em qualquer lugar
menos no Brasil, claro, que não é
um lugar qualquer, mas uma imensa piada feita país.
A Gol emitia ontem instruções
aos passageiros para que fizessem
qualquer coisa, menos ir aos aeroportos, porque, no país-piada,
aviões não decolam de aeroportos,
ficam estacionados.
No mesmo dia em que a Gol fazia
tão insólito apelo, a Varig, recém-adquirida pela mesmíssima Gol,
soltava uma promoção que também
é piada. Título: "Todo mundo vai
voar". Oferece 90% de desconto para todos os destinos domésticos
operados pela companhia, mas só
neste fim de semana.
É exatamente o fim de semana
em que ninguém deve ir aos aeroportos, segundo recomendação da
nova dona da empresa que diz que
"todo mundo vai voar".
Vai não.Tanto que outro dos atores do circense drama aéreo tupiniquim dizia ontem: "Uma paralisação longa como essa destrói a malha
aérea do país. Estamos, praticamente, começando do zero neste
sábado", lamentava José Carlos Pereira, presidente da Infraero, referindo-se ao "motim" dos controladores de tráfego aéreo.
"Motim" cujo encerramento foi
negociado não por gente do setor,
como o ministro da Defesa ou mesmo o presidente em exercício, José
Alencar, que já foi ministro da Defesa, mas pelo ministro do Planejamento, que não tem por que entender alguma coisa do assunto.
Mas, no país-piada, é até melhor
que seja o ministro Paulo Bernardo
a negociar. Afinal, seu chefe, Lula,
dizia em dezembro: "Acho que acabou a crise. A situação parece já ter
se normalizado".
É outra piada, porque, três meses
depois, a "normalidade" antevista
por Lula era tamanha que a Gol
mandava fugir do aeroporto.
crossi@uol.com.br
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