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RUY CASTRO
Fim da aura
RIO DE JANEIRO - Mais casos de
violência em salas de aula brasileiras. Na terça-feira da semana passada, em Salvador, cinco homens invadiram uma escola e mataram a tiros de pistola um estudante de 18
anos. Foi um ato planejado: entraram e foram direto à sala da turma
do garoto. Talvez um ajuste de contas por algum negócio feito na rua.
Mas não importa: a questão foi resolvida na escola.
Na quinta-feira, numa escola de
Vila Brasilândia, zona norte de São
Paulo, um aluno de 14 anos exibia-se em classe com um revólver calibre 38, a princípio descarregado,
apontando-o para a cabeça dos colegas. O professor estava fora. O
menino colocou um projétil na arma e, continuando a fanfarronice,
disparou sem querer e acertou o
joelho de uma colega. O revólver
pertencia a um tio dele, de profissão
vigilante -nem tão vigilante assim,
por deixar sua arma ao alcance de
um garoto.
No mesmo dia, de novo em Salvador, outro estudante, idem, 14 anos,
foi baleado por um homem que subiu o muro de um ginásio estadual e
disparou duas vezes contra ele. O
menino não vai morrer, mas espanta como as escolas se tornaram palco de vinganças e desenlaces. Uma
recente pesquisa em escolas públicas baianas revelou que 6 em cada
10 alunos já foram protagonistas ou
vítimas de atos violentos. Não deve
ser diferente em outros Estados.
Antes, os colégios tinham uma
aura de intocabilidade. Mestres e
alunos resolviam entre si suas diferenças. Os pais só compareciam
quando chamados. A polícia também não entrava e, quando isso
acontecia, como na ditadura, era
um escândalo. Hoje são os bandidos
que invadem.
A escola tornou-se uma extensão
da rua. Ou do quarto dos garotos,
nisto incluindo o celular e o iPod,
que eles levam para a sala de aula
como extensões de si mesmos.
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