São Paulo, quarta-feira, 01 de abril de 2009

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ANTONIO DELFIM NETTO

Preocupações

HOUVE UMA dramática queda do crescimento do PIB entre o terceiro e o quarto trimestres de 2008, e os sinais no primeiro de 2009 são dúbios. O que será o crescimento deste ano, entretanto, não pode ser "previsto". Depende do vigor e da inteligência das políticas fiscal e monetária e de como reagirá a elas o setor privado.
Há, certamente, muito a fazer na política monetária, onde o Banco Central só agora começou a usar a sua musculatura para restabelecer o fluxo do crédito interbancário. O governo tem dado ênfase aos únicos instrumentos de que dispõe para ativar a economia: 1º) acelerar os seus investimentos e 2º) tentar cooptar o setor privado com alguns estímulos creditícios e fiscais para fazerem o mesmo. Ambos, sempre submetidos à responsabilidade fiscal.
Por seus sacerdotes, os "Deuses do Mercado" têm manifestado sérias dúvidas sobre tal política. Em relação à menos importante tarefa do Banco Central (a redução da taxa Selic), manifestam com a gravidade de quem se pensa portador de uma verdade "científica", a preocupação que ela possa vir a acelerar a desvalorização cambial e, assim, comprometer a meta inflacionária de 4,5%. Há mil razões para discutir em que condições tal "ciência" deve ser levada a sério, mas apenas uma basta para pô-la em dúvida: a tremenda queda da demanda interna, que só será recuperada lentamente. Essa recuperação depende menos da taxa de juros Selic do que das ações do Banco Central para regularizar o fluxo interbancário.
Em relação à política fiscal, boa parte das preocupações dos sacerdotes é que a provável redução do superávit primário venha a comprometer a queda monotônica da relação dívida/PIB, fator de alguma importância para a redução da taxa de juros. Hoje ela anda em torno de 37%, contra 52% em 2003. Mesmo que o PIB caia 1% (possível, mas dependente do que fizermos nos próximos nove meses), se a taxa de juros real anual cair para 6% (o que já deveria ter acontecido há alguns anos!), um superávit primário em torno de 3% do PIB será suficiente para estabilizá-la.
Nas condições atuais, até os "Deuses" a aprovarão, porque em 2009 praticamente todos os países verão sua relação dívida/PIB elevar-se.
Os investimentos do governo registraram uma aceleração: de 0,4% em 2003 para 1% em 2008 -de um PIB que cresceu 26% no período (4,7% real ao ano). É claro, entretanto, que, sem cooptar o setor privado, eles não terão potência suficiente para sustentar o crescimento. Isso sugere a urgência de acelerar e estimular todas as formas de concessão das obras de infraestrutura.

contatodelfimnetto@uol.com.br

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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