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ANTONIO DELFIM NETTO
Preocupações
HOUVE UMA dramática queda do crescimento do PIB
entre o terceiro e o quarto
trimestres de 2008, e os sinais no
primeiro de 2009 são dúbios. O que
será o crescimento deste ano, entretanto, não pode ser "previsto".
Depende do vigor e da inteligência
das políticas fiscal e monetária e de
como reagirá a elas o setor privado.
Há, certamente, muito a fazer na
política monetária, onde o Banco
Central só agora começou a usar a
sua musculatura para restabelecer
o fluxo do crédito interbancário.
O governo tem dado ênfase aos
únicos instrumentos de que dispõe
para ativar a economia: 1º) acelerar
os seus investimentos e 2º) tentar
cooptar o setor privado com alguns
estímulos creditícios e fiscais para
fazerem o mesmo. Ambos, sempre
submetidos à responsabilidade
fiscal.
Por seus sacerdotes, os "Deuses
do Mercado" têm manifestado sérias dúvidas sobre tal política. Em
relação à menos importante tarefa
do Banco Central (a redução da taxa Selic), manifestam com a gravidade de quem se pensa portador de
uma verdade "científica", a preocupação que ela possa vir a acelerar a
desvalorização cambial e, assim,
comprometer a meta inflacionária
de 4,5%.
Há mil razões para discutir em
que condições tal "ciência" deve
ser levada a sério, mas apenas uma
basta para pô-la em dúvida: a tremenda queda da demanda interna,
que só será recuperada lentamente. Essa recuperação depende menos da taxa de juros Selic do que
das ações do Banco Central para
regularizar o fluxo interbancário.
Em relação à política fiscal, boa
parte das preocupações dos sacerdotes é que a provável redução do
superávit primário venha a comprometer a queda monotônica da
relação dívida/PIB, fator de alguma importância para a redução da
taxa de juros. Hoje ela anda em torno de 37%, contra 52% em 2003.
Mesmo que o PIB caia 1% (possível,
mas dependente do que fizermos
nos próximos nove meses), se a taxa de juros real anual cair para 6%
(o que já deveria ter acontecido há
alguns anos!), um superávit primário em torno de 3% do PIB será suficiente para estabilizá-la.
Nas condições atuais, até os "Deuses" a
aprovarão, porque em 2009 praticamente todos os países verão sua
relação dívida/PIB elevar-se.
Os investimentos do governo registraram uma aceleração: de 0,4%
em 2003 para 1% em 2008 -de um
PIB que cresceu 26% no período
(4,7% real ao ano). É claro, entretanto, que, sem cooptar o setor privado, eles não terão potência suficiente para sustentar o crescimento. Isso sugere a urgência de acelerar e estimular todas as formas
de concessão das obras de
infraestrutura.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
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