São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2011

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Inflação de confiança

Relatório trimestral do BC reafirma convicção de que pressão sobre preços estaria arrefecendo; mão de obra e serviços ainda preocupam

O relatório de inflação divulgado a cada trimestre pelo Banco Central constitui o principal meio de comunicação da autoridade monetária com a sociedade. É por meio dele que o BC expõe em detalhe seus cenários para a economia e apresenta projeções de inflação. A versão sobre o primeiro trimestre era muito aguardada, por ser a primeira na gestão do novo presidente, Alexandre Tombini.
O documento reafirmou a visão de que as pressões atuais sobre preços seriam passageiras, derivadas da alta das matérias-primas, já em fase de esgotamento. Nas projeções apresentadas pelo BC, a inflação ficará em 5,6% neste ano, mas convergirá para o centro da meta (4,5%) em meados de 2012 sem a necessidade de aumento significativo da taxa básica de juros, hoje de 11,75%.
Bastaria, para o BC, um aumento próximo a meio ponto percentual, muito menor do que supunha a maioria dos analistas há poucas semanas. O tom do documento deixa claro que mesmo essa alta discreta não estaria garantida e que sua adoção poderia ser parcelada em mais de uma reunião do Comitê de Política Monetária -ou até mesmo não ocorrer.
O BC também manifesta confiança de que estaria em curso uma desaceleração gradual da economia, tendo em vista a elevação já imposta aos juros, de um ponto percentual, e as medidas prudenciais (compulsório bancário mais alto, restrições de crédito, aumento de IOF nas captações de empréstimos externos).
É elogiável a atitude do BC de não seguir uma política purista de juros e considerar de forma mais ampla o uso de medidas administrativas. Também parece positiva a aparente coordenação com o Ministério da Fazenda quanto ao prometido corte fiscal.
Por outro lado, o BC dá mostra de atribuir peso insuficiente a alguns riscos inflacionários. Os principais estão no custo da mão de obra e na indexação dos preços de serviços. Nos últimos dois meses houve surpresas no IPCA, e as projeções de inflação têm crescido -já ameaçam superar 6% e 5% para 2011 e 2012, respectivamente. A alta dos serviços corre a 8% ao ano e espera-se elevada indexação para 2012.
Ao contrário do que diz o documento, o cenário mais provável para a inflação ainda não se comprovou "mais benigno", desde o fim de 2010. O BC deve criar seus próprios cenários e comunicá-los de modo claro à sociedade, mas a política atual exala algum excesso de autoconfiança, pouco salutar para quem tem o mandato de ancorar os preços.
A inflação presente já corrói o poder de compra da população. Segundo o IBGE, o rendimento real médio (descontada a inflação) caiu 1,5% de outubro de 2010 a fevereiro de 2011.
A meta de 4,5% não se resume a uma variável monetária; é, também, um alvo definido de disciplina econômica que o país aprendeu a valorizar. Nessa matéria, o BC pode até inovar, mas não errar.


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