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FERNANDO GABEIRA
O visitante
RIO DE JANEIRO - Numa das visitas internacionais mais politicamente delicadas do ano, chega ao
Brasil Mahmoud Ahmadinejad. De
um ponto de vista de nossas relações comerciais e culturais com o
Irã, é compreensível.
Os dois países acabam de viver
um desencontro.
O Brasil condenou, sem mencionar o nome, a intolerância que Ahmadinejad revelou na sua intervenção, em Genebra, na conferência
sobre racismo. Teerã respondeu
não ser adequado fazer críticas às
vésperas da visita de Ahmadinejad.
Penso exatamente o contrário. A
crítica foi feita na hora exata. É importante que ele conheça nossa situação. Somos pela existência de
dois Estados, Israel e Palestina. Fiel
à nossa política, Lula jamais deixou
de mencionar isso, mesmo em conferências onde apenas os árabes estão presentes.
Quando há uma grande crise no
Oriente Médio, fazemos no Saara,
bairro comercial do Rio, manifestação das duas colônias, insistindo
com nosso exemplo de que é possível uma convivência pacífica.
A presença de Ahmadinejad vai
provocar manifestações de protesto. E é importante que Lula tenha
consciência de que o Irã tem eleições nos próximos meses. Não é
bom comprometer a imagem do
país, muito simpática no Irã, com as
pretensões de Ahmadinejad. Uma
coisa é receber a Venezuela no Mercosul, outra, simpatizar com Chávez. De uma forma mais dramática
ainda, uma coisa é desejar boas relações comerciais e culturais com o
Irã, outra é respaldar um discurso
de intolerância e ódio. A elegância
para o anfitrião será uma caminhada na corda bamba.
As manifestações que esperam
Ahmadinejad são, na verdade, consequência da sua negação do Holocausto. Para nós, a visita é um teste
essencial num mundo onde o papel
pacificador do Brasil estará sempre
sujeito a reações apaixonadas.
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