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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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COM ALCA OU SEM ALCA

A visita ao Brasil de Robert Zoellick, representante de Comércio dos Estados Unidos, encerrou-se com a perspectiva de que as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) irão se alongar. A exemplo do que fizeram os EUA, também o Brasil decidiu discutir os temas "sensíveis" na Organização Mundial de Comércio.
Independentemente, porém, dos recuos da agenda, o país não pode voltar as costas para a promoção da competitividade da indústria. Afinal, com Alca ou sem Alca no horizonte, o setor industrial deve preparar-se para aumentar sua produtividade, seja com vistas a gerar os necessários superávits comerciais, seja para não perder terreno em possíveis novos processos de abertura.
As cadeias industriais brasileiras, caso sejam expostas ao choque de liberalização que teria lugar com a implantação da Alca, se defrontariam com uma dinâmica combinada de benefícios e ameaças. Nenhuma delas seria exclusivamente vítima ou beneficiária do livre comércio. Essa é uma das principais conclusões de um recente estudo a cargo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior. O trabalho não levou em conta a totalidade do setor industrial brasileiro, mas sua extensão parece bastante representativa: foram examinadas 17 cadeias industriais, que respondem por cerca de 53% do faturamento da indústria, 63% das exportações e 67% das importações.
Entre os setores mais competitivos, o estudo destaca dois grupos. O primeiro é formado por siderurgia, café, couro/calçados, celulose/papel e sucos. O segundo, por cosméticos, madeira/móveis e revestimentos cerâmicos. Entre os menos competitivos, inscrevem-se construção naval, plásticos, têxteis/confecções, petroquímica e bens de capital. Um quarto grupo, formado por veículos, equipamentos de comunicação, eletrônicos de consumo, informática e farmacêutica teria sua competitividade muito dependente de decisões a serem tomadas pelas empresas multinacionais que atuam nesses setores.
Não cabe aqui reproduzir os detalhes da pesquisa, cuja íntegra pode ser encontrada nos sites da universidade e do ministério. O que merece comentário são as oportunidades de políticas a serem empreendidas com vistas a corrigir ou a proteger os pontos mais vulneráveis das diversas cadeias estudadas.
Um bom exemplo disso é a área de têxteis e confecções, destacada pelo pesquisador Rodrigo Sabbatini e pelo professor Mariano Laplane, ambos da Unicamp, em artigo que comenta a pesquisa. Alguns dos elos e empresas desse setor estão entre os mais competitivos do mundo, o que, em princípio, asseguraria vantagens na Alca. Há, no entanto, inúmeras pequenas e médias unidades de produção têxtil e de confecções, algumas quase informais, que muito provavelmente naufragariam se expostas aos efeitos da liberalização.
Mapeamentos dessas realidades são úteis quando se têm em mente objetivos de planejamento econômico. É de esperar que eles se traduzam na formulação de políticas industriais específicas, como as que o governo tem prometido em sua retórica sobre a "fase dois" da economia.


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