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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Cigarro: requintada poluição!

A Organização Mundial da Saúde (OMS) conseguiu um feito inusitado: os Estados Unidos aprovaram o texto do acordo internacional que combate o tabagismo. O tratado contém cláusulas contra a proliferação dos pontos-de-venda, sobre o controle da publicidade e até sobre a proibição da comercialização de cigarros em certos ambientes.
Os americanos resistiram à idéia durante quatro anos. Por princípio, eles não gostam de interferir na vida das pessoas e das empresas. Mas acabaram aceitando fazê-lo, o que facilitará a ratificação do tratado pelo Congresso dos Estados Unidos.
Daqui para a frente, os signatários do acordo envidarão todos os esforços para banir o tabaco da vida humana. Já estava na hora. O cigarro mata quase 5 milhões de pessoas, que são atingidas por doenças cardíacas, câncer e derrames. Só nos Estados Unidos o tabagismo faz o país gastar, anualmente, US$ 76 bilhões com tratamentos e US$ 82 bilhões com perda de produtividade! No Brasil não é diferente. O governo gasta no SUS (com tratamentos de câncer do pulmão, derrames e cardiopatias) uma boa parte do que arrecada de impostos sobre o cigarro. Em boa hora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apertou os controles sobre o fumo. Oxalá o atual governo reforce ainda mais essa política.
Com a ratificação do tratado da OMS, o mundo ganhará mais uma ferramenta. Isso não significa que o problema vá desaparecer da noite para o dia. Terão de ser intensificadas as restrições ao fumo, a rotulagem sobre os danos, a contrapropaganda etc. Tais medidas exigem deliberação e recursos. Não é fácil. Afinal, só nos Estados Unidos as fábricas de cigarros gastam US$ 10 bilhões por ano em publicidade.
Mas não se pode desanimar. A produção e o consumo de cigarros estabilizaram-se nos últimos dez anos, quando foram intensificadas as restrições ao cigarro.
Em estudos detalhados, os resultados são ainda mais animadores. Em 27 países que adotaram lugares especiais para fumantes, constatou-se uma redução do consumo de cigarros da ordem de 29% (Erik Assadourian, "Cigarette production dips slightly", "Vital Signs", 2003).
Isso não significa uma redução de 29% de fumantes, mas uma diminuição dos cigarros consumidos em 29% -o que já é um grande passo.
Ratificado o tratado e iniciadas as campanhas, é bem provável que os fabricantes de cigarros venham a inventar novas artimanhas para alimentar o vício. Será uma luta de gigantes, que vale a pena ser enfrentada. O valor da vida humana está acima de qualquer negócio.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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