São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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DEPENDÊNCIA FINANCEIRA

As incertezas sobre o momento e o ritmo de elevação nas taxas de juros dos Estados Unidos, sobre a intensidade da desaceleração da economia chinesa e sobre a cotação do petróleo desencadearam muita volatilidade no preço dos ativos, sobretudo naqueles de maior risco, como os títulos emitidos pelos países emergentes. O risco Brasil, por exemplo, oscilou entre 662 e 805 pontos no mês de maio, o que dificulta a definição adequada do custo de uma operação financeira, levando ao adiamento das transações.
Nesse contexto, o volume de captações externas de empresas e bancos brasileiros diminuiu. Entre janeiro e maio, as emissões atingiram US$ 4,5 bilhões, uma queda de 32% em relação ao mesmo período de 2003. É provável que essa tendência persista neste mês de junho. Nesse ambiente, em que os agentes econômicos buscam um novo patamar para os preços dos ativos, as captações com maior possibilidade de êxito são as chamadas "operações estruturadas". Isto é, aquelas que envolvem algum tipo de garantia por parte da empresa, como as receitas de exportação.
O total da dívida externa, que atingiu US$ 235 bilhões em fevereiro, a maior parte com vencimento relativamente curto, implica amortizações estimadas em US$ 53,6 bilhões durante este ano. Com o crescimento das exportações, o superávit em conta corrente alcançou US$ 5,8 bilhões. Acrescentando-se o investimento estrangeiro direto, de US$ 10,5 bilhões, a necessidade de financiamento externo cai para US$ 37,3 bilhões em 2004 -um patamar ainda alto.
Apesar das turbulências, não parece provável uma mudança abrupta no comportamento dos investidores estrangeiros. O Brasil deverá continuar a captar recursos no exterior, ainda que a um custo mais elevado. Todavia, o país precisa encontrar formas para reduzir essa dependência do mercado financeiro internacional, altamente volátil. Isso significa gerar moeda forte mediante a expansão sustentada das exportações e aperfeiçoar e ampliar as instituições e os instrumentos de financiamento do investimento e do consumo em moeda doméstica.


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