São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Ruptura
"O professor François Chesnais ("Ruptura radical" é a saída para o Brasil, defende professor francês", Entrevista da 2ª, 31/5) tem dado uma excelente contribuição à causa do mundo subdesenvolvido ao mostrar, em seus vários livros, de que forma a globalização capitalista, comandada pelos EUA, aprofunda a divisão entre ricos e pobres até dentro dos países mais ricos do planeta. Mas, ao apontar em sua entrevista a experiência política cubana como exemplo a ser seguido pelos países subdesenvolvidos, especialmente o Brasil, o ilustre professor prestou um desserviço àquela nobre causa. A mundialização humanista, pela qual lutamos, funda-se no respeito integral à democracia e aos direitos humanos, caminho que, infelizmente, não tem sido seguido pelo governo cubano."
Fábio Konder Comparato, professor titular da Faculdade de Direito da USP (São Paulo, SP)

 

"Horrorosas e irresponsáveis as declarações do intelectual francês François Chesnais à Folha. Ele propõe ao Brasil um Estado totalitário de esquerda quando hoje sabemos que tanto o totalitarismo de direita como o de esquerda estão longe de poderem ser associados à palavra democracia e são fontes inesgotáveis de graves crimes contra o indivíduo. É perigoso a Folha dar tanto espaço a essas opiniões, que podem até corromper a fraca fundamentação democrática de nossa classe política e de nossos atuais governantes. Muito provavelmente Chesnais não irá morar nem em Cuba nem nesse Brasil totalitário que defende, vai continuar vivendo na França."
Francisco Vitor de Oliveira Júnior (São Paulo, SP)

Pesquisa e desenvolvimento
"Excelente a sugestão de Onecy Granja ("Painel do Leitor", pág. A3, 31/5) de criar setores de pesquisa e desenvolvimento no Senai e no Senac para atender as pequenas empresas que não podem contratar doutores. Eu diria ainda que isso pode servir também para as médias e -por que não?- para as grandes empresas. Quem foi "aprendiz" por quatro anos no Senai pode avaliar com exatidão a capacidade operacional, técnica, tecnológica e de planejamento e a total objetividade de seus professores em áreas tão diversas como marcenaria, mecânica, eletrotécnica, mecatrônica etc."
João Batista Ioriatti Demattê, ex-"aprendiz" do Senai de Londrina (PR), professor-doutor aposentado da Unesp (Serra Negra, SP)

Só um caminho
"O predomínio de ricos nas universidades públicas deve-se a apenas um fato: eles têm condições de "bancar" colégios particulares de qualidade, de estudar línguas, de fazer intercâmbio etc. Os mais pobres estudam nas precárias instituições de ensino público e, muitas vezes, não recebem a formação adequada para passar em vestibulares como o da USP. A instituição de cotas para estudantes de escolas públicas nas universidades não é o melhor método para resolver o problema. Teremos centenas de jovens cursando faculdades, mas raramente veremos algum concluir os cursos -e voltaremos à questão da exclusão social. Só há um caminho: mexer no meio do ciclo educacional, e não no final. Precisamos de ensino fundamental e médio público de qualidade."
André Luiz Ferreira Cunha (Amparo, SP)

Urnas
"Diferentemente do afirmado por representantes da Sociedade Brasileira de Computação, e aparentemente "comprado" pela Folha, a impressão em papel do voto dado eletronicamente e o seu depósito em urna não traria nenhuma garantia adicional de segurança. Está certo o sr. Moacir Casagrande, do PT. Primeiro, porque o fraudador do voto eletrônico violaria também a urna física. Segundo, e mais importante, porque, em caso de disparidade, como concluir que a fraude teria incidido no voto eletrônico, e não nos registros em papel? Apontar isso não significa dizer que não se devam tornar mais rigorosos os processos de certificação e de controle do voto eletrônico."
Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da Transparência Brasil (São Paulo, SP)

Corrupção
"Josias de Souza, no texto "Futuro do combate à corrupção passa pelo STF" (Brasil, 30/5), conseguiu demonstrar a crua realidade com lucidez e sem amarras, atingindo o âmago da questão da investigação criminal e mostrando o que realmente está em jogo. Como foi bem observado por ele, a corrupção encontra-se tão enraizada -até no Poder Judiciário- que os escândalos se tornaram banais. Na mesma proporção, é facilmente perceptível a atuação do Ministério Público no combate à criminalidade. Graças ao trabalho do Ministério Público -em parceria com a polícia e com outros órgãos que também exercem atividades de investigação criminal-, a responsabilização de cidadãos até então acima de qualquer suspeita passou a ser mais freqüente, em especial a partir da Constituição de 1988, unicamente pela utilização eficiente de nossas prerrogativas constitucionais e legais. É desalentador como parece não interessar aos Poderes ter um Ministério Público independente, firme e atuante. Felizmente, vozes livres e comprometidas unicamente com a sociedade contribuem para o esclarecimento da população."
Janice Agostinho Barreto Ascari, procuradora regional da República (São Paulo, SP)

Saúde
"A Federação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Estado de São Paulo -Fesehf- não se opõe ao Programa Anual de Reestruturação de Assistência Hospitalar do SUS como deu a entender o editorial "Insensatez na saúde" (Opinião, pág. A2, 24/ 5). Não acreditamos que o simples corte de leitos, levando em consideração apenas impactos estatísticos e sem considerar aspectos clínicos individuais dos pacientes, seja a solução adequada. O Ministério Público Federal já se manifestou nessa direção, exigindo que o Ministério da Saúde esclareça pontos específicos da medida que podem pôr em risco a saúde dos pacientes. Juntos com a Fesehf nesse entendimento estão médicos, psiquiatras e várias entidades. Em relação ao texto "Discussão emperra medida antimanicômio" (Cotidiano, 18/5), julgamos incorreto o uso da palavra "antimanicômio" por considerarmos ser uma generalização das entidades envolvidas na questão. A Fesehf representa os hospitais filantrópicos e privados que oferecem tratamento a pacientes com distúrbios psiquiátricos, mas não são considerados manicômios. Esclarecemos que a designação "manicômio" é correta para referir-se às instituições do Estado (como o Juqueri), ou seja, hospitais psiquiátricos de caráter judiciário. Essa generalização pode levar aos leitores uma imagem falsa das condições e tratamentos oferecidos aos pacientes nos leitos dos hospitais filantrópicos e privados."
Carolina Fagnani, assessora de comunicação e imprensa da Fesehf (São Paulo, SP)

Segurança
"Em relação à carta da senhora Sandra Regina da Palma Soares, de Cruzeiro -SP ("Painel do Leitor", 30/5), a Coordenadoria de Imprensa do Governo do Estado de São Paulo esclarece que o salário inicial (piso) para um soldado de primeira classe saltou de R$ 326 em dezembro de 1994 para R$ 1.220 em dezembro de 2003. Um aumento nominal de 274% e real (já descontada a inflação) de 72%. Um investigador de polícia teve aumentos de 231% e de 64%. Os policiais, além disso, contam com outros benefícios, como o plano especial para a aquisição de imóvel da CDHU e o programa Cesta de Medicamentos, por meio do qual é feita a distribuição de 40 tipos de remédio."
Emerson Figueiredo, secretário-adjunto da Secretaria da Comunicação do Governo do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)


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