São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O paradoxo do não-Estado
DENIS LERRER ROSENFIELD
Paradoxalmente, poder-se-ia dizer que os cidadãos financiam um mecanismo burocrático que possibilita que suas próprias vidas estejam em perigo. Trata-se de uma forma de masoquismo social. Talvez este país devesse dotar-se de leis que assegurassem aos seus membros não pagar impostos e tributos em casos de incompetência do Estado. Assim, uma bala perdida, um roubo e um seqüestro poderiam, inclusive, ser ressarcidos na forma de uma isenção fiscal. Enquanto não encontrarmos um meio de penalização de nossos governantes e de responsabilização do Estado enquanto tal, a situação permanecerá inalterada, pois os incompetentes, os que não cumprem com as suas funções, continuam sendo recompensados pelo poder de que usufruem. O MST e movimentos congêneres, por sua vez, continuam sendo alimentados por dinheiro público, pelos recursos de cada um de nós, para "infernizar" o campo brasileiro com prolongações cada vez mais freqüentes em nossas próprias cidades. São Paulo tem tido situações desse tipo. Esses recursos públicos são transmitidos a esse movimento via "bolsas" do Fome Zero e "dízimos" pagos pelos assentados a seus dirigentes. A fome poderia ser remediada por intermédio de uma ação direta do Estado, que não teria esse movimento como intermediário e principal beneficiário. E esse "inferno" não conhece limites, pois a sua razão social de ser há muito deixou de fazer parte do ideário desse movimento político, voltado para a destruição do Estado -por "burguês" e "formal"- e para a aniquilação da economia de mercado. A invasão de fazendas da Votorantim, Brascan e Unibanco não deve ser atribuída ao acaso nem a um afã de propaganda, mas a um objetivo bem preciso de destruir símbolos de uma economia capitalista, baseada, portanto, no mercado e na liberdade econômica. Dessa maneira, esse movimento revolucionário mostra claramente, com a destruição de uma plantação de eucaliptos, que o seu alvo reside na aniquilação de empresas que se interpõem a seu projeto político. Paradoxalmente também, essas empresas estão financiando com seus impostos e tributos a criação de condições que tornariam inviável a própria existência de uma economia de mercado -na verdade, a existência das próprias empresas. Estranha situação essa em que empresas financiam a sua própria destruição e ainda elogiam um governo que fortalece um movimento político que mina os alicerces da liberdade econômica e política. Um movimento que diz, ademais, "seguir a Constituição" quando a avacalha por suas próprias ações. Até quando o Estado poderá compactuar com uma espécie de "movimento/ partido" cujos dirigentes se vangloriam da incitação ao crime? Denis Lerrer Rosenfield, 53, doutor pela Universidade de Paris 1, é professor titular de filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e editor da revista "Filosofia Política". Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Antonio Carlos Magalhães: Um retrocesso Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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