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Avanço na USP
Governo estadual edita decreto reafirmando a autonomia universitária; é mais do que hora de pôr fim à ocupação da reitoria
DEMOROU 28 DIAS, desde
a invasão da reitoria,
para o governo do Estado de São Paulo dar o
passo que lhe competia a fim de
pôr um ponto final na crise da
USP. Os decretos sobre instituições públicas paulistas de ensino
superior emitidos a partir de 1º
de janeiro de 2007 sofreram ontem acréscimos para explicitar o
compromisso com a autonomia
universitária. Era o que faltava
para dissipar as preocupações,
ao que parece excessivas, com
alegadas ameaças a esse instituto
constitucional.
Foi também contemplada, em
princípio, a suposta intenção da
administração José Serra de
submeter a pesquisa acadêmica
a necessidades empresariais e do
mercado. A passagem do decreto
nº 51.461 que conferia à nova Secretaria de Ensino Superior a
missão de ampliar as atividades
de pesquisa, "principalmente as
operacionais", foi reescrita para
retirar a suspeita expressão.
Outro diploma sob questionamento era o decreto nº 51.636.
Artigo nesta Folha assinado pelo secretário-chefe da Casa Civil,
Aloysio Nunes Ferreira Filho, já
havia esclarecido, anteontem,
que o decreto apenas reitera regras de execução orçamentária
editadas em anos anteriores.
Com efeito, não é inédita a necessidade de autorização da Secretaria da Fazenda (artigo 10º)
para que órgãos de governo, inclusive universidades, possam
efetuar transposição de quotas
orçamentárias. Já constava do
decreto nº 50.589, de 16 de março do ano passado.
Trata-se de informação básica,
factual, que todas as partes -e
também o editorial "Serra e o nó
da USP", aqui publicado no sábado- falharam ao desconsiderar.
Vindo à tona, esboroa-se a suposição de muitos universitários, e
não só dos invasores, de que tal
exigência de autorização fosse
peça concebida pelo novo governador para erodir a autonomia
das três universidades estaduais.
Se havia aí ameaça, cumpre reconhecer que já existia antes de
Serra e se viu agora afastada com
o gesto conciliador do governo.
Com isso, torna-se insustentável a posição inflexível dos ocupantes da reitoria. Se dias atrás,
diante da flagrante ilegalidade
da situação, já era mais do que
recomendável que recuassem,
agora, após as conquistas obtidas, cai por terra a motivação do
embate com o governador. Pareceu, por isso, extemporânea, fruto da desinformação, a passeata
dos estudantes que ontem pretendia chegar até o Palácio dos
Bandeirantes e foi contida pela
ação policial, provocando transtornos no trânsito da cidade.
Mais do que nunca, é forçoso
exigir daqueles que se preparam
para ser parte da elite intelectual
do país que demonstrem, ainda
que tardiamente, respeito democrático pela determinação judicial de reintegração de posse.
No que toca ao governo, lamenta-se que tenha sido politicamente tão inábil, demorando-se demais a fazer gestos de esclarecimento e conciliação. Tivessem as explicações sobre seu
projeto para pesquisa e instituições de ensino superior vindo
quatro semanas atrás, a ocupação da reitoria não teria provavelmente alcançado o paroxismo
de intransigência a que chegou.
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