São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

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Ataque preventivo

NO QUE PARECE ser um ataque preventivo às fortes críticas que os EUA sofreriam na Cúpula do G-8 -a realizar-se na semana que vem na Alemanha- por conta de sua posição sobre a mudança climática, o presidente George W. Bush lançou ontem uma nova proposta para tentar conter o aquecimento anormal do planeta.
O mandatário norte-americano não foi específico, mas falou em convocar os 15 países que mais emitem gases-estufa para uma reunião, que poderia durar 18 meses, em que acertariam uma meta global de redução. Bush quer que a China e a Índia (e provavelmente o Brasil) participem. Na primeira fase do Protocolo de Kyoto (a iniciativa da ONU contra o efeito estufa), países em desenvolvimento foram dispensados de cortar emissões.
A aceitação de metas por parte de Bush marca uma guinada em sua posição. O presidente passou a maior parte de sua administração afirmando que não havia provas de que a queima de combustíveis fósseis era responsável pelo aquecimento planetário, e uma das primeiras ações que adotou na Presidência foi retirar os EUA do Protocolo de Kyoto.
Não há razões, porém, para acreditar que o líder norte-americano tenha de fato se curvado à questão ambiental. Seu gesto parece, antes, ser pragmático. Ao anunciar sua iniciativa às vésperas de embarcar para a Alemanha, Bush não só alivia a pressão que sofreria de seus pares europeus como praticamente garante que a cúpula não vá tomar decisões sobre o problema climático.
Mais ainda, a proposta dos EUA também atropela as negociações em curso a respeito da segunda fase de Kyoto, o que tende a dificultar o avanço dessa discussão no âmbito planetário. E, na implausível hipótese de que a iniciativa da Casa Branca prospere, o que não ocorreria antes do fim de 2008, não seria Bush, mas seu sucessor que teria de arcar com o ônus econômico.


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