São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

De palavras e traseiros

PARIS - É comovente o esforço de alguns jornalistas em cobrar seriedade e respeito ao público por parte dos políticos. Tão comovente como inútil. Noventa por cento ou mais dessa casta (conforme expressão utilizada em livro publicado na Itália sobre o mundo político local, já citado aqui) não liga a mínima para o que escrevemos, porque sua eleição não depende da mídia, a não ser eventualmente da mídia eletrônica, que, por sua vez, tem pouca ou nenhuma opinião.
A grande maioria dos senadores e deputados elege-se em currais eleitorais em que a corrupção pode ser até aplaudida, desde que resulte numa pontezinha aqui, numa fonte luminosa ali, numa "boquinha" acolá.
Pela enésima vez: o mundo político tornou-se um planeta à parte, que gira em órbita própria, defende seus próprios interesses e seus próprios integrantes, de que a confissão do senador Romeu Tuma de que quer absolver Renan Calheiros, em vez de investigá-lo, é apenas a mais recente prova.
A "Política Inc." é uma corporação fechada, cega, surda e muda aos ruídos externos, pelo menos os procedentes da mídia.
A única chance de mudança -e assim mesmo débil- está em você, eleitor. Vejamos um caso concreto, e nem vou citar o mundo rico, porque o brasileiro parece ter abdicado do legítimo direito de ter instituições e serviços públicos decentes. Cito a Argentina.
Um dado dia, sem convocação de ninguém, espontaneamente, o tal de povo (classe média principalmente) saiu às ruas, panela na mão, garganta afiada, para gritar "que se vayan todos". Foram. Primeiro, caiu o ministro da Economia, logo depois o presidente (e aqui é mais fácil, na medida em que o presidente não é a bola da vez).
Seis anos depois, qualquer indicador da Argentina para o qual se olhe é melhor do que era no momento em que a turma tirou o traseiro da cadeira. Funcionou, não?


crossi@uol.com.br

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