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CLÓVIS ROSSI
De palavras e traseiros
PARIS - É comovente o esforço de
alguns jornalistas em cobrar seriedade e respeito ao público por parte
dos políticos. Tão comovente como
inútil. Noventa por cento ou mais
dessa casta (conforme expressão
utilizada em livro publicado na Itália sobre o mundo político local, já
citado aqui) não liga a mínima para
o que escrevemos, porque sua eleição não depende da mídia, a não ser
eventualmente da mídia eletrônica,
que, por sua vez, tem pouca ou nenhuma opinião.
A grande maioria dos senadores e
deputados elege-se em currais eleitorais em que a corrupção pode ser
até aplaudida, desde que resulte numa pontezinha aqui, numa fonte luminosa ali, numa "boquinha" acolá.
Pela enésima vez: o mundo político tornou-se um planeta à parte,
que gira em órbita própria, defende
seus próprios interesses e seus próprios integrantes, de que a confissão do senador Romeu Tuma de
que quer absolver Renan Calheiros,
em vez de investigá-lo, é apenas a
mais recente prova.
A "Política Inc." é uma corporação fechada, cega, surda e muda aos
ruídos externos, pelo menos os procedentes da mídia.
A única chance de mudança -e
assim mesmo débil- está em você,
eleitor. Vejamos um caso concreto,
e nem vou citar o mundo rico, porque o brasileiro parece ter abdicado
do legítimo direito de ter instituições e serviços públicos decentes.
Cito a Argentina.
Um dado dia, sem convocação de
ninguém, espontaneamente, o tal
de povo (classe média principalmente) saiu às ruas, panela na mão,
garganta afiada, para gritar "que se
vayan todos". Foram. Primeiro,
caiu o ministro da Economia, logo
depois o presidente (e aqui é mais
fácil, na medida em que o presidente não é a bola da vez).
Seis anos depois, qualquer indicador da Argentina para o qual se
olhe é melhor do que era no momento em que a turma tirou o traseiro da cadeira. Funcionou, não?
crossi@uol.com.br
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