|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Defesa comercial
Enquanto Brasil e Argentina discutem barreiras recíprocas, produtos chineses se impõem no Mercosul
DIANTE DA acentuada
contração das economias dos países ricos
-EUA, Europa e Japão-, a concorrência entre os
exportadores ficou ainda mais
acirrada. Essa disputa agressiva
envolveu também os mercados
emergentes, que têm apresentado menor retração da atividade
produtiva e do emprego.
Nesse processo, os produtores
chineses vão ocupando participações crescentes em alguns
mercados, como os da Argentina
e do Brasil -que já tem na China
seu maior parceiro comercial, à
frente dos EUA.
A pauta desse comércio tem sido bastante desfavorável para o
setor fabril brasileiro. Importam-se volumes cada vez maiores de produtos manufaturados
dos chineses. Os manufaturados
brasileiros também perdem presença no mercado argentino. A
pretexto de preservar o seu parque produtivo, a Argentina impôs entraves específicos -entre
os quais a exigência de licenças
não automáticas, de trâmite burocrático e prolongado- a mercadorias oriundas do Brasil.
O comércio entre Brasil e Argentina registrou retração de
39% no primeiro trimestre do
ano. Porém os chineses ampliaram sua participação no mercado vizinho -em detrimento, obviamente, das vendas brasileiras.
Segundo pesquisa de uma consultoria argentina especializada
no comércio com o Brasil, dos oito setores em que houve crescimento das vendas chinesas à Argentina em 2009, o Brasil perdeu
mercado em seis: papel, calçados, farmacêuticos, instrumentos fotográficos, óticos, médicos
e musicais, brinquedos e acessórios de vestuário.
Como se sabe, a China manipula sua taxa de câmbio e adota
uma agressiva política de apoio
às exportações, com destaque
para os mecanismos de financiamento dos compradores externos de seus produtos manufaturados. O acesso ao crédito barato
e a existência de produtos com
preços baixos -muitas vezes artificialmente reduzidos- propiciam à China a tomada de mercados de outros exportadores.
Esse "desvio de comércio", isto
é, o incremento nas importações
de fornecedores externos ao
Mercosul, precisa ser enfrentado
de forma mais incisiva pelas autoridades brasileiras, no âmbito
do bloco comercial.
Em vez de negociarem estratégias comuns para enfrentar as
práticas desleais de comércio
que ameaçam os interesses do
Mercosul, Brasil e Argentina se
engalfinham em batalhas intermináveis, com o fito de impor
barreiras comerciais um contra
o outro. Quinze anos depois do
Tratado de Ouro Preto, que fundou o bloco, nem sequer o livre
comércio é praticado entre os
seus dois principais integrantes.
O assédio chinês é um lembrete de que essa fase infantil do
Mercosul precisa ser superada
depressa. Ou Brasil e Argentina
mudam já o patamar de suas relações comerciais, ou a realidade
sobre a qual terão de discutir,
num futuro próximo, vai piorar
substancialmente.
Próximo Texto: Editoriais: A vez dos profissionais
Índice
|