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Ataque em alto-mar
Ao investir contra flotilha humanitária, Israel insiste em demonstrações de força que acirram ânimos e dificultam processo de paz
É inaceitável o ataque desferido
por militares de Israel contra a flotilha que pretendia levar ajuda
humanitária à faixa de Gaza.
As seis embarcações, acossadas
em águas internacionais, transportavam mais de 500 pessoas e
10 mil toneladas de suprimentos.
Representantes de organizações
de apoio aos palestinos tentavam
furar o bloqueio imposto pelos israelenses àquela faixa de terra,
que se comprime, em menos de
500 km2, entre o mar Mediterrâneo, o Egito e Israel.
O motivo mais imediato do embargo é o fato de Gaza ser governada, desde 2007, pelo grupo radical
islâmico Hamas, que prega o aniquilamento da nação vizinha e
promove ataques com foguetes a
cidades israelenses.
Determinadas a impedir violações ao bloqueio, forças de Israel
tomaram de assalto o comboio e
entraram em conflito com os manifestantes. Pelo menos nove pessoas morreram.
O governo Binyamin Netanyahu apressou-se em denunciar relações -ainda a demonstrar- entre pessoas a bordo e grupos terroristas. Também alegou legítima
defesa, uma vez que seus militares
teriam sido atacados quando invadiam as embarcações.
Na mais branda das hipóteses,
as Forças de Defesa de Israel foram incompetentes. Na mais grave (e possivelmente realista), tentaram, mais uma vez, dar uma demonstração de força.
Não faz muito tempo, em dezembro de 2008, militares israelenses invadiram a faixa de Gaza e
fizeram terra arrasada de populosas cidades palestinas. Intensos
bombardeios mataram, de maneira indiscriminada, civis e militantes do Hamas.
O estrangulamento militar não
conseguiu depor o grupo extremista. Tampouco mostrou-se eficaz o embargo, que só piora as já
miseráveis condições de vida da
população palestina.
O ataque de ontem é em tudo
contraproducente. Acirra o processo de radicalização no Oriente
Médio, fornece argumentos aos
fundamentalistas islâmicos e deixa Israel numa posição diplomática ainda mais isolada.
Mesmo os EUA, aliados incondicionais, pediram explicações. A
Turquia, tradicional interlocutora
do país no mundo muçulmano,
classificou a ação como um ato de
"terrorismo de Estado".
Israel tem direito à autodefesa e
está certo em apontar para o caráter terrorista de ações do Hamas.
Mas isso não é justificativa para
que o país prossiga nessa escalada
de violência e de criação de fatos
consumados com vistas a tornar
impossível um acordo de paz
equilibrado -que implicaria o retorno às fronteiras originais, desenhadas em 1947, o reconhecimento do Estado Palestino e o compartilhamento de Jerusalém.
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