São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2010

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Ataque em alto-mar

Ao investir contra flotilha humanitária, Israel insiste em demonstrações de força que acirram ânimos e dificultam processo de paz

É inaceitável o ataque desferido por militares de Israel contra a flotilha que pretendia levar ajuda humanitária à faixa de Gaza.
As seis embarcações, acossadas em águas internacionais, transportavam mais de 500 pessoas e 10 mil toneladas de suprimentos. Representantes de organizações de apoio aos palestinos tentavam furar o bloqueio imposto pelos israelenses àquela faixa de terra, que se comprime, em menos de 500 km2, entre o mar Mediterrâneo, o Egito e Israel.
O motivo mais imediato do embargo é o fato de Gaza ser governada, desde 2007, pelo grupo radical islâmico Hamas, que prega o aniquilamento da nação vizinha e promove ataques com foguetes a cidades israelenses.
Determinadas a impedir violações ao bloqueio, forças de Israel tomaram de assalto o comboio e entraram em conflito com os manifestantes. Pelo menos nove pessoas morreram.
O governo Binyamin Netanyahu apressou-se em denunciar relações -ainda a demonstrar- entre pessoas a bordo e grupos terroristas. Também alegou legítima defesa, uma vez que seus militares teriam sido atacados quando invadiam as embarcações.
Na mais branda das hipóteses, as Forças de Defesa de Israel foram incompetentes. Na mais grave (e possivelmente realista), tentaram, mais uma vez, dar uma demonstração de força.
Não faz muito tempo, em dezembro de 2008, militares israelenses invadiram a faixa de Gaza e fizeram terra arrasada de populosas cidades palestinas. Intensos bombardeios mataram, de maneira indiscriminada, civis e militantes do Hamas.
O estrangulamento militar não conseguiu depor o grupo extremista. Tampouco mostrou-se eficaz o embargo, que só piora as já miseráveis condições de vida da população palestina.
O ataque de ontem é em tudo contraproducente. Acirra o processo de radicalização no Oriente Médio, fornece argumentos aos fundamentalistas islâmicos e deixa Israel numa posição diplomática ainda mais isolada.
Mesmo os EUA, aliados incondicionais, pediram explicações. A Turquia, tradicional interlocutora do país no mundo muçulmano, classificou a ação como um ato de "terrorismo de Estado".
Israel tem direito à autodefesa e está certo em apontar para o caráter terrorista de ações do Hamas. Mas isso não é justificativa para que o país prossiga nessa escalada de violência e de criação de fatos consumados com vistas a tornar impossível um acordo de paz equilibrado -que implicaria o retorno às fronteiras originais, desenhadas em 1947, o reconhecimento do Estado Palestino e o compartilhamento de Jerusalém.


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