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ELIANE CANTANHÊDE
Marcha da insensatez
BRASÍLIA - O relatório da AIEA (a
agência de energia atômica) mostra
que há muito mais urânio enriquecido no Irã do que a vã filosofia de
Ahmadinejad admite e do que os
1.200 kg que ele se dispõe a transferir para a Turquia. E, em meio à crise de confiança geral, vem agora Israel com um ato insano, que atinge
um único objetivo: jogar o mundo
inteiro contra ele próprio, talvez
com a exceção do amigão EUA.
Não bastasse Israel ter a bomba
atômica e partir para a ofensiva
contra o Iraque, a Síria, o Líbano,
mulheres e crianças palestinas, o
país agora ataca navios com militantes pacifistas e ajuda humanitária para a população civil de Gaza.
São militantes de diferentes nacionalidades, com reações indignadas em vários pontos do planeta,
plantando uma dúvida no ar: será
que o Irã não tem o direito de enriquecer urânio e assim se precaver
contra radicais israelenses? É como
se um justificasse as ameaças do
outro, um estimulasse as loucuras
do outro. E a região que se exploda.
O ataque aos navios e a contagem de mortos tira o foco do Irã e joga sobre Israel, deixando Washington e as demais potências sob fogo
cruzado e sem discurso para impor
sanções contra o regime iraniano,
pelo menos neste momento.
Se Israel tem a bomba e o Irã não,
se Israel ataca pacifistas estrangeiros e o Irã não, se Israel não ouve
ninguém para decidir atos assim
e o Irã pelo menos tenta um acordo,
como é que Barack Obama e as
potências vão demonizar um e
ignorar o outro?
Metido até a raiz dos cabelos na
crise, o Brasil condenou duramente
a agressão aos navios e cobrou indiretamente uma reação à altura do
governo Obama. Mas, a esta altura,
o que parece é que estão todos mudos, cegos e surdos. Ninguém ouve
mais ninguém. O que significa que
a razão anda escanteada e que as
emoções estão à flor da pele. Emoções, como sabemos, são péssimas
conselheiras em política externa e
em posicionamentos estratégicos.
elianec@uol.com.br
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