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ELIANE CANTANHÊDE
Solidão
BRASÍLIA - No Senado, Mercadante ataca em todas as frentes: é o contato
com o Planalto, articula e desarticula
CPIs, negocia com o PMDB, responde
à gritaria do plenário, suporta uma
multidão de jornalistas.
Na Câmara, José Dirceu, ainda na
fase de receber tapinhas de boas-vindas, só conta com meia dúzia de moicanos para assumir o comando de
um exército em frangalhos.
No PT, Genoino ingloriamente defende Delúbio Soares e Silvio Pereira,
tenta manter um mínimo de ordem
na desordem, faz o que pode para
neutralizar os que se dizem de "esquerda" no partido e responde a jornalistas do país inteiro.
Essa é a situação dos principais líderes do PT, que brilharam durante
anos na oposição e em outras CPIs.
Agora, perplexos e acuados, sofrem a
corrosão do poder. Estão sós.
Cadê o PT? Cadê os companheiros
de Mercadante, Genoino, Dirceu?
Cadê os que se esbaldaram na festa
da vitória e da posse de Lula? Por onde anda João Paulo, por exemplo?
No início, só as maravilhas e os puxa-sacos. Depois, as ambições, pressões e interesses contrariados. No fim,
acusações e pancadarias. Ah, que
saudade da oposição!
No Senado, uma bancada inexpressiva, ao lado de personalistas como
Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque. Na Câmara, deputados inexperientes, contrariados ou simplesmente contrários aos rumos do que seria o
"seu" governo. A barafunda de tendências e interesses nunca foi tão evidente no PT.
E Lula? As vidraças dos palácios, a
vassalagem de assessores e os instrumentos de governo costumam inebriar os presidentes. Enfastiado com
agendas de trabalho e extasiado com
suas próprias metáforas, Lula pode
ainda estar convencido de que a economia está "uma maravilha", a crise
é "construída" e "tudo isso é passageiro". Pior para ele.
A solidão do poder é uma doença.
Lula está cercado por comodidades e
por muita gente, mas nunca esteve
tão sozinho. Um clima desolador.
@ - elianec@uol.com.br
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