São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Solidão

BRASÍLIA - No Senado, Mercadante ataca em todas as frentes: é o contato com o Planalto, articula e desarticula CPIs, negocia com o PMDB, responde à gritaria do plenário, suporta uma multidão de jornalistas.
Na Câmara, José Dirceu, ainda na fase de receber tapinhas de boas-vindas, só conta com meia dúzia de moicanos para assumir o comando de um exército em frangalhos.
No PT, Genoino ingloriamente defende Delúbio Soares e Silvio Pereira, tenta manter um mínimo de ordem na desordem, faz o que pode para neutralizar os que se dizem de "esquerda" no partido e responde a jornalistas do país inteiro.
Essa é a situação dos principais líderes do PT, que brilharam durante anos na oposição e em outras CPIs. Agora, perplexos e acuados, sofrem a corrosão do poder. Estão sós.
Cadê o PT? Cadê os companheiros de Mercadante, Genoino, Dirceu? Cadê os que se esbaldaram na festa da vitória e da posse de Lula? Por onde anda João Paulo, por exemplo?
No início, só as maravilhas e os puxa-sacos. Depois, as ambições, pressões e interesses contrariados. No fim, acusações e pancadarias. Ah, que saudade da oposição!
No Senado, uma bancada inexpressiva, ao lado de personalistas como Eduardo Suplicy e Cristovam Buarque. Na Câmara, deputados inexperientes, contrariados ou simplesmente contrários aos rumos do que seria o "seu" governo. A barafunda de tendências e interesses nunca foi tão evidente no PT.
E Lula? As vidraças dos palácios, a vassalagem de assessores e os instrumentos de governo costumam inebriar os presidentes. Enfastiado com agendas de trabalho e extasiado com suas próprias metáforas, Lula pode ainda estar convencido de que a economia está "uma maravilha", a crise é "construída" e "tudo isso é passageiro". Pior para ele.
A solidão do poder é uma doença. Lula está cercado por comodidades e por muita gente, mas nunca esteve tão sozinho. Um clima desolador.

@ - elianec@uol.com.br


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: O pântano e a pauta
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Nelson Motta: Nacionalismo genital
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.