São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

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NELSON MOTTA

Nacionalismo genital

RIO DE JANEIRO - Exploração sexual de menores é, além de uma covardia hedionda, um crime a ser combatido implacavelmente -e países civilizados o punem com o máximo rigor. Mas, se dois adultos decidem livremente ter uma relação sexual paga, o Estado não tem nada com isso.
No Brasil, ao contrário dos EUA, a prostituição não é ilegal. Então por que um grupo de americanos foi preso num barco cheio de mulheres na baía de Guanabara mesmo sendo todas profissionais e maiores de idade? Reserva de mercado sexual? Xenofobia genital? Combate ao turismo sexual? Por que combater o turismo sexual se os objetos de desejo dos visitantes são homens e mulheres adultos que fazem isso porque precisam ou gostam? E, certamente, não estão fazendo mal a ninguém, muito pelo contrário. Então qual é o problema? Seria... humm... moral? Qual delas? A oficial? A petista? A católica? A evangélica? Mas o Estado e a igreja não estão separados há muito tempo?
"Eles vêm aqui comer as nossas mulheres...", rosnam os machões nativos, fervendo de ressentimento, fingindo que não sabem que elas estão loucas para se dar para os estrangeiros porque, afinal, vivem disso. É o que lhes dá de comer. Os "nacionalistas sexuais" vêem esses turistas assanhados como violadores de suas mães e irmãs, reagem ultrajados em defesa de quem não quer ser defendido-quer só ganhar a vida alugando seu corpo e vendendo ilusões, como há milênios, em paz.
Pelo menos Fidel teve mais humor ao reconhecer que milhares de universitárias estavam se prostituindo em Cuba -um dos grandes destinos turístico-sexuais de europeus e, oh ironia, de americanos que furam o "bloqueio" e viajam clandestinamente, atraídos pela liberdade sexual cubana.
"Aqui em Cuba, a educação é tão boa que até as putas são universitárias", safou-se o velho tirano, provocando gargalhadas. E lágrimas.


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