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Concorrência em risco
Fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour dominaria metade do mercado de SP; Cade tem de se tornar mais célere e preparado para avaliar casos
A tentativa de fusão entre os
grupos Pão de Açúcar e Carrefour
no Brasil trouxe à tona a ameaça
de concentração em um setor vital
para o dia a dia dos consumidores.
Cercado de aspectos obscuros,
inclusive pela mal explicada participação de uma empresa pública
no negócio, a BNDESPar, a operação gerou uma onda de questionamentos no Congresso.
Do outro lado, levou o governo
a escalar autoridades para defender a união, como se ela fosse uma
questão imprescindível para o Estado. O fato só levanta mais suspeitas sobre os reais motivos de
usar R$ 4 bilhões em dinheiro público para financiar a operação.
A megafusão ressalta também
um problema de fundo no Brasil: a
incapacidade que os órgãos reguladores têm de analisar a priori negócios que podem se tornar danosos para o ambiente econômico.
Consultorias especializadas em
varejo calculam que, juntos, Pão
de Açúcar e Carrefour controlarão
47% do setor de supermercados
no Estado de São Paulo, o maior
mercado consumidor do país.
O principal concorrente da empresa resultante da fusão seria o
Walmart, com uma fatia de mercado de apenas 13%. Outras redes e
lojas ficariam com percentuais
ainda mais pulverizados.
Com um poder de fogo equivalente a quase metade das vendas
em São Paulo, a fusão poderá prejudicar a concorrência por ao menos duas vias: estabelecendo preços parecidos onde houver sobreposição de lojas Pão de Açúcar e
Carrefour; e usando seu peso para
obter de fornecedores preços muito menores do que os concedidos
a redes mais modestas.
No segundo caso, a união terá
força para estrangular aos poucos
o espaço de seus concorrentes,
podendo, até, eliminá-los.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) é o órgão
encarregado de zelar para que não
ocorra concentração excessiva de
poder nas mãos de alguns grupos
econômicos. Mas sua atuação,
além de morosa, ocorre quase
sempre a posteriori.
O caso da fusão Sadia-Perdigão
é exemplar. Mais de dois anos depois de as empresas terem anunciado a intenção de se fundir, o Cade ainda não julgou definitivamente essa possibilidade.
Há seis anos tramita no Congresso um projeto prevendo uma
estrutura para o Cade capaz de
avaliar os processos de maneira
mais célere. Nesse novo modelo, o
órgão teria até seis meses para
analisar fusões, que não ocorreriam antes da sua decisão final.
Como demonstram a pressão e
o apoio estatal no caso da fusão
entre Pão de Açúcar e Carrefour, o
governo e sua base no Congresso
não parecem ter interesse em mudar as regras desse jogo, que pode
continuar a ser manipulado, até
com o uso de dinheiro público.
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