São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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À PROCURA DE UM ESTADISTA

Neste momento de pânico nos mercados financeiros, é de sumo interesse do país que as candidaturas que pleiteiam à sucessão de Fernando Henrique Cardoso tomem duas atitudes. A primeira é que cessem de fornecer elementos retóricos que sabidamente contribuem para o nervosismo nesses mercados. A segunda é que se concentrem na crise -e em seus desastrosos resultados em termos de perspectiva para o próximo governo- para que respondam a ela com propostas.
Não é difícil ouvir no meio acadêmico e da boca de analistas mais experientes diagnósticos que classificam a presente crise como uma das mais graves, senão a mais grave, das últimas décadas. Já não se trata de abalos na periferia do capitalismo global, como as que ocorreram entre 1994 e o ano 2000. Agora o abalo se dá no centro financeiro do planeta: Wall Street.
Nos Estados Unidos, profissionais que manejam investimentos em países emergentes já falam abertamente no calote na dívida externa brasileira. Em Brasília, nos bastidores do poder, se menciona -furtiva e algo insidiosamente- a hipótese da "alfonsinização" de FHC. O presidente argentino Raúl Alfonsin, em 1989, diante de uma agudíssima crise hiperinflacionária foi compelido a antecipar em seis meses o final de seu mandato e a transmitir o poder mais cedo a Carlos Menem.
Nesse turbilhão, os candidatos à sucessão precisam demonstrar compromisso firme não com o governo FHC, mas com as instituições democráticas e a governabilidade. Chega da retórica canhestra de apostar na piora do quadro socioeconômico. Chega de pronunciar frases ocas que apenas incendeiam as suscetibilidades dos agentes econômicos.
Para enfrentar os quatro anos difíceis que tem pela frente, o Brasil está à procura não de um piromaníaco ou de um autista incapaz de responder de modo pró-ativo ao momento delicado por que passa a nação. Está à procura de um estadista.


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