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CLÓVIS ROSSI
Bem-vindo à Argentina
SÃO PAULO - Era uma vez um presidente que disse que, se o Brasil elegesse um incompetente, poderia, sim, virar uma Argentina.
Pois bem: ontem, o Brasil virou
quase uma Argentina, ao menos do
ponto de vista do câmbio.
Como o presidente da frase tem por
hábito perder o amigo, mas não perder a piada, sinto-me tentado a seguir a mesma regra e dizer que o Brasil só pode ter eleito um incompetente
no passado, não no futuro.
Mas seria injusto e, pior, inútil. O
velho sábio desta Folha, que cito vez
ou outra, vem dizendo, faz algum
tempo, que jamais viu uma crise como a de agora. Achava que ele estava
exagerando ou que passava por um
surto de pessimismo (em contradição
com o seu estado de ânimo habitual).
Ontem, no entanto, o velho sábio
passou pelo meu canto e comentou
que, olhe-se para onde olhar, não há
uma maldita boa notícia disponível.
Ainda que tivesse ousadia suficiente
para discordar de um sábio, não teria
argumentos.
A verdade é que o Brasil vai entrar
no período eleitoral para valer neste
mês de agosto -com um pé na Argentina, cercado por uma Argentina
que se "brasilianizou" (ou seja, piorou muito) e por um Uruguai em
franco processo de derretimento.
Para não ficar apenas no lamento,
transmito às autoridades competentes sugestão de um agente de mercado que pede anonimato: levantar
junto aos grandes exportadores o
montante que teriam em exportações
a embarcar nos próximos seis a 12
meses -que pudessem ser contratadas antecipadamente (há mecanismos para isso).
De posse desses dados , disponibilizar o montante equivalente em linhas de comércio exterior junto ao
Banco do Brasil, criando assim uma
oferta significativa de dólares na dependência do tamanho das exportações possíveis.
Pode não ser a salvação da lavoura,
mas indica que há coisas para fazer
sem ser heterodoxo.
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