São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Bem-vindo à Argentina

SÃO PAULO - Era uma vez um presidente que disse que, se o Brasil elegesse um incompetente, poderia, sim, virar uma Argentina.
Pois bem: ontem, o Brasil virou quase uma Argentina, ao menos do ponto de vista do câmbio.
Como o presidente da frase tem por hábito perder o amigo, mas não perder a piada, sinto-me tentado a seguir a mesma regra e dizer que o Brasil só pode ter eleito um incompetente no passado, não no futuro.
Mas seria injusto e, pior, inútil. O velho sábio desta Folha, que cito vez ou outra, vem dizendo, faz algum tempo, que jamais viu uma crise como a de agora. Achava que ele estava exagerando ou que passava por um surto de pessimismo (em contradição com o seu estado de ânimo habitual).
Ontem, no entanto, o velho sábio passou pelo meu canto e comentou que, olhe-se para onde olhar, não há uma maldita boa notícia disponível. Ainda que tivesse ousadia suficiente para discordar de um sábio, não teria argumentos.
A verdade é que o Brasil vai entrar no período eleitoral para valer neste mês de agosto -com um pé na Argentina, cercado por uma Argentina que se "brasilianizou" (ou seja, piorou muito) e por um Uruguai em franco processo de derretimento.
Para não ficar apenas no lamento, transmito às autoridades competentes sugestão de um agente de mercado que pede anonimato: levantar junto aos grandes exportadores o montante que teriam em exportações a embarcar nos próximos seis a 12 meses -que pudessem ser contratadas antecipadamente (há mecanismos para isso).
De posse desses dados , disponibilizar o montante equivalente em linhas de comércio exterior junto ao Banco do Brasil, criando assim uma oferta significativa de dólares na dependência do tamanho das exportações possíveis.
Pode não ser a salvação da lavoura, mas indica que há coisas para fazer sem ser heterodoxo.



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