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ESPECULAÇÃO ALARMISTA
Esforçando-se para parecer
confiável na condução da política econômica, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva está sendo compelido a tentar preservar sua autoridade
política. Especula-se sobre a sua capacidade de manter a ordem e não se
submeter a pressões.
Movimentos sociais radicalizam
ações procurando explorar os laços
históricos mantidos com o PT. Na
frente política das reformas constitucionais, servidores desafiam o Planalto com greves para tentar conter
as mudanças na Previdência ao mesmo tempo que governadores negociam apoios visando a ganhos fiscais
para suas administrações.
Tendo como pano de fundo a forte
retração econômica, que arregimenta insatisfações entre trabalhadores e
setores do empresariado, os embates
em curso têm propiciado interpretações alarmistas, em muitos casos
com o interesse de apenas desgastar
a imagem do governo.
Podem-se entender dessa forma as
palavras do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, ao comparar a
atual gestão à de João Goulart. Segundo o parlamentar, além de "fraco" como o de Jango, o governo de
Lula seria "arrogante". O paralelo,
que veladamente rememora o desfecho traumático de 1964, não parece
ter propósito.
Não é preciso detalhar o contexto
internacional da época, marcado pela Guerra Fria, tampouco as complexas mudanças por que passava a sociedade brasileira. É suficiente lembrar que João Goulart foi eleito pelo
PTB para assumir a Vice-Presidência
de um opositor político, Jânio Quadros, tendo recebido o país no transcorrer de uma de suas crises mais
agudas, após a bombástica renúncia
do primeiro mandatário.
Lula, diferentemente, foi eleito presidente com expressiva maioria, embasado em partido sólido, com ampla gama de apoios, em inequívoca
demonstração de maturidade democrática e solidez das instituições.
O governo deve, sim, oferecer garantias de que manterá a lei e a ordem sem transigir com aventuras radicais. Ao mesmo tempo, é preciso
ver com cautela tentativas levianas de
dramatizar um cenário que, mesmo
complicado, não sugere ruptura ou
crise institucional.
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