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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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BOLSA DO TERROR

Incansável na capacidade de surpreender o mundo, a administração de George W. Bush pretendia criar um "mercado futuro" no qual apostadores tentariam prever ataques terroristas. A quem a idéia soar apenas como delírio inconsequente, convém esclarecer que ela contava com US$ 8 milhões do Orçamento federal norte-americano. Até o início da semana, o site do Pentágono na internet explicava que se poderia apostar, por exemplo, no assassinato do líder palestino Iasser Arafat. Quanto mais corretas as previsões de data, local e alvo, maiores os lucros a serem obtidos.
O projeto -que atendia pelo orwelliano nome de "Mercado de Análise Política"- tinha o alegado objetivo de reforçar a prevenção a atentados. "Pesquisas indicam", justificou o Pentágono em seu credo ultraprivatista, "que os mercados são extremamente eficientes e capazes de agregar informações dispersas e ocultas".
Às vésperas de sair do papel, a iniciativa foi abortada por um misto de indignação pública, despertada por protestos de senadores, e inviabilidade prática. Não bastasse a imoralidade de "igualar a atividade terrorista ao desempenho da safra do milho", na definição do "New York Times", a idéia estimularia especuladores até mesmo a financiar atentados para depois lucrar com eles, além de permitir a terroristas, devidamente protegidos por testas-de-ferro, apostarem em suas próprias ações.
O pai da "bolsa do terror" é John Poindexter, ex-assessor de Ronald Reagan condenado por mentir ao Congresso durante as investigações do escândalo Irã-Contras -o caso da venda secreta de armas ao Irã por parte dos EUA para financiar ilegalmente a oposição ao governo de esquerda da Nicarágua.
Ressuscitado pelo atual governo, Poindexter dirige uma espécie de "unidade de novos negócios" do Pentágono. Embora considere esse núcleo "brilhante", o subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz, avalia que desta vez seu subordinado pode ter sido excessivamente "criativo". Cada vez mais, os personagens da administração Bush parecem saídos de um filme de roteiro inverossímil.


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