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BOLSA DO TERROR
Incansável na capacidade de
surpreender o mundo, a administração de George W. Bush pretendia criar um "mercado futuro" no
qual apostadores tentariam prever
ataques terroristas. A quem a idéia
soar apenas como delírio inconsequente, convém esclarecer que ela
contava com US$ 8 milhões do Orçamento federal norte-americano. Até
o início da semana, o site do Pentágono na internet explicava que se poderia apostar, por exemplo, no assassinato do líder palestino Iasser
Arafat. Quanto mais corretas as previsões de data, local e alvo, maiores
os lucros a serem obtidos.
O projeto -que atendia pelo orwelliano nome de "Mercado de Análise
Política"- tinha o alegado objetivo
de reforçar a prevenção a atentados.
"Pesquisas indicam", justificou o
Pentágono em seu credo ultraprivatista, "que os mercados são extremamente eficientes e capazes de agregar
informações dispersas e ocultas".
Às vésperas de sair do papel, a iniciativa foi abortada por um misto de
indignação pública, despertada por
protestos de senadores, e inviabilidade prática. Não bastasse a imoralidade de "igualar a atividade terrorista
ao desempenho da safra do milho",
na definição do "New York Times", a
idéia estimularia especuladores até
mesmo a financiar atentados para
depois lucrar com eles, além de permitir a terroristas, devidamente protegidos por testas-de-ferro, apostarem em suas próprias ações.
O pai da "bolsa do terror" é John
Poindexter, ex-assessor de Ronald
Reagan condenado por mentir ao
Congresso durante as investigações
do escândalo Irã-Contras -o caso
da venda secreta de armas ao Irã por
parte dos EUA para financiar ilegalmente a oposição ao governo de esquerda da Nicarágua.
Ressuscitado pelo atual governo,
Poindexter dirige uma espécie de
"unidade de novos negócios" do
Pentágono. Embora considere esse
núcleo "brilhante", o subsecretário
da Defesa, Paul Wolfowitz, avalia
que desta vez seu subordinado pode
ter sido excessivamente "criativo".
Cada vez mais, os personagens da
administração Bush parecem saídos
de um filme de roteiro inverossímil.
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