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FERNANDO CANZIAN
"Mensalões" e
"mensalinhos"
É muito difícil prever um desfecho, mas os fatos da semana passada abriram uma pequena fenda pela
qual a crise pode começar a esvaziar.
Afinal, PT, parte importante do PSDB
e da constelação de siglas que bebeu
na fonte de Marcos Valério aparentam ser farinha do mesmo saco.
Até aqui, o saco do PT é o maior e o
mais imundo. Nele, acabaram metidos alguns dos maiores embusteiros
que o Brasil já produziu, arautos de
uma ética impossível no país do ""com
ou sem nota". Mas a revelação de que
pelo menos o PSDB de Minas usou o
esquema da publicidade de Valério
colocou a oposição diante de um dilema: tentar matar ou não Lula agora?
Logo no início da semana passada,
os faróis de milha do mercado financeiro leram nas declarações de FHC e
José Serra que a primeira alternativa
vai sendo descartada. Daí a calmaria.
Afinal, como liquidar politicamente
Lula por irregularidades que o presidente do PSDB, o ex-governador
Eduardo Azeredo, também cometeu?
Agora, a não ser que apareça um
cheque ou dinheiro irregular direto
para Lula, Marisa ou algum Lulinha, o
PT continuará goleando os outros
partidos no jogo da corrupção, mas
todos estarão no mesmo estádio.
Até agora, a CPI dos Correios revelou pouco apego à técnica e à sistematização de informações quentes. Seus
membros preferem o palanque e o
pau-de-arara de depoimentos vazios.
Também não parecem ter nenhum interesse nos verdadeiros corruptores e
nas empresas privadas que participam há anos do grande esquema. Daí
esse cheirinho característico no ar.
Mas, se pizza for a escolha no cardápio, a oposição corre o enorme risco
de acabar passando mal ao acreditar
na tese de que Lula-2006 e o seu PT
chegarão estropiados lá na frente.
O ano que vem pode marcar a consolidação e o reforço dos pilares que
hoje sustentam a popularidade de Lula. Mesmo com tanta roubalheira em
torno de sua figura, o presidente segue
firme com uma aprovação de 35%, segundo o Datafolha.
Em 2006, o governo atingirá "força
total" em seus dois principais programas sociais, o Fome Zero e o Bolsa-Família. Só o último vai atingir 11,4 milhões de famílias e torrar R$ 8 bilhões
em ""mensalinhos" a miseráveis.
Na economia, dificilmente 2006 será
pior que 2005, que deve ser módico,
mas com um crescimento acima dos
anos FHC e com razoável geração de
empregos formais. Serão quase 3 milhões no biênio 2004-2005, 80% deles
pagando mais "mensalinhos", privados, de até R$ 600. Para quem não tinha nada, é muito. No horizonte externo, nenhum sinal de crise. Só muita
incompetência fará a peteca cair.
De resto, Lula procurará se apoiar
no engodo da "limpa" no PT e em seu
ministério, além das ações espetaculares da Polícia Federal, para dizer que
agiu contra a corrupção.
Diante disso, a aposta da oposição
de que a sujeira atual deixará manchas
indeléveis na reputação do presidente
e produzirá excelente material de
campanha não passa disso -aposta.
É triste e abjeta a história do "mensalão", mas ela joga em nossa cara o
que já estamos carecas de saber. Não
há medo de cadeia e distribuição de
renda suficientes neste país. Quando
políticos roubam e miseráveis votam,
são corrupção e bolso quem mandam.
Fernando Canzian é repórter especial da Folha.
Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo
de João Sayad, que escreve às segundas-feiras
nesta coluna.
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