São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Jair Rosa Pinto

RIO DE JANEIRO - Semana passada, morreu Jair Rosa Pinto, aqui no Rio, cidade que ele encantou com o maravilhoso futebol que jogou durante quase duas décadas (1940-1950). Com perdão de Pelé e Garrincha, considero Jair, ao lado de Didi, os dois maiores craques que meus olhos viram jogar.
Bem verdade que o futebol, embora conservando as mesmas regras, mudou de tal forma as táticas que praticamente transformou-se em novo tipo de jogo. Deixou de ser arte para ser esporte. O time tricampeão da Copa de 70 perderia hoje para o Anapolina. Os atletas, em geral, ganharam resistência maior, melhor preparo físico. Johnny Weissmuller, campeão olímpico de natação em 1928, perderia hoje para um infanto-juvenil do Fluminense. As marcas olímpicas são anualmente superadas.
Voltando ao futebol e sobretudo a Jair. Ele jogava parado, como Beckenbauer, a bola vinha até ele. Driblava pouco, tinha uma fabulosa visão de jogo, seus passes de 40 metros, tais como os de Didi, colocavam o companheiro frente a frente com o goleiro. Era dono do chute mais potente dos gramados, um chute que até hoje não teve igual.
Integrou o trio atacante mais famoso do nosso futebol (no tempo em que a armação em campo era 2-3-5): Zizinho, Ademir e Jair, trio que brilhou (apesar da derrota final) na melhor seleção que tivemos, a de 1950.
Num jogo em que o Flamengo perdeu para o Vasco, Zé Lins do Rego foi ao vestiário consolar os jogadores do seu time. Quando abraçou Jair, deu um grito: "Você não molhou a camisa, ela está seca!". O romancista deu um jeito e levou a camisa 10 para a Galeria Cruzeiro, que era então o centro do centro do Rio. Fez um comício, um discurso indignado e queimou a camisa de Jair para provar que não estava molhada
Pouco depois, mesmo sem molhar a camisa 10, durante a Copa de 50, Jair foi considerado pela imprensa internacional o melhor jogador do mundo.


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