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Editoriais
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Caso Bruno
Entregue à Justiça nesta semana, o inquérito para apurar os responsáveis pelo desaparecimento
e possível homicídio de Eliza Samudio teve condução desastrosa.
Na busca pelos holofotes da imprensa, e pressionadas pelo clamor popular que cerca o caso, as
autoridades policiais cometeram
sucessivos e indesculpáveis erros.
É certo que a polícia tem de realizar a atividade persecutória, mas
o Estado democrático de Direito
impõe limites à sua atuação.
O direito de acesso aos autos do
inquérito, por exemplo, foi por
muito tempo vetado ao advogado
de defesa do goleiro Bruno, o principal suspeito, em flagrante descumprimento à jurisprudência do
país e às orientações do Supremo
Tribunal Federal sobre o tema.
Desse modo, foi correta a estratégia da defesa de evitar que o goleiro e outros suspeitos falassem
durante os interrogatórios.
O caso demonstra erros comuns
ao trabalho policial: em vez de investigar, opta-se por condenar sumariamente e em público aqueles
que são alvo do inquérito, mesmo
que tais declarações encontrem
base frágil em provas concretas.
Além disso, o excesso de protagonismo das autoridades responsáveis pela investigação termina
por ser prejudicial à própria sociedade, pois os erros cometidos podem gerar a nulidade de todo o
processo. Embora aparentemente
saciem o desejo popular de condenação dos envolvidos no crime, as
autoridades acabam favorecendo
a impunidade -especialmente
em um caso que precisa ser decidido de forma bastante técnica, já
que até agora não foi encontrado o
corpo da desaparecida.
Mesmo que caiba à Justiça definir se os investigados são realmente culpados, provas materiais
bem produzidas e testemunhos
sólidos, com contradições dirimidas, serão essenciais para um julgamento adequado.
Teriam mais sucesso as autoridades policiais caso se concentrassem em prestar este auxílio indispensável ao Judiciário em vez
de tentar substituí-lo em deploráveis espetáculos midiáticos.
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