São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

Próximo Texto | Índice

RETRATO DA REVIRAVOLTA

Uma subida de José Serra nas pesquisas eleitorais era uma hipótese que não estava descartada do cenário sucessório que se avizinhava com a entrada da propaganda eleitoral no rádio e na TV. A chapa tucano-peemedebista tem uma vantagem grande de exposição no horário eleitoral em relação às suas concorrentes e, afinal, conta com o peso político de ser a herdeira de oito anos de governismo. A surpresa, confirmada pela pesquisa do Datafolha publicada hoje, foi a contundência da reação do tucano. A diferença entre José Serra e Ciro Gomes, que há duas semanas era de 14 pontos percentuais, diminuiu para apenas um.
A convergência dos dois presidenciáveis para a faixa dos 20% das intenções de voto foi praticamente simétrica: Ciro Gomes caiu sete pontos percentuais (de 27% para 20%); José Serra ascendeu seis (de 13% para 19%). Trata-se de mais uma evidência de que as duas chapas disputam uma fatia do eleitorado semelhante. Já o petista Luiz Inácio Lula da Silva (tendo se mantido com 37%) parece por ora imune ao calor da disputa.
O movimento quase instantâneo que recolocou José Serra na disputa do segundo lugar é condizente com a tese de que o eleitorado reage diferentemente às pesquisas de opinião conforme o desenrolar da campanha. Como esta Folha já afirmara em editorial, a entrada do processo sucessório em sua fase final ajudaria a descortinar a verdadeira herança que cada candidatura trazia da pré-campanha. Não se mostrou sólido todo o crescimento alcançado por Ciro Gomes; e o patamar de José Serra estava como que "subnotificado".
Mas a identificação simultânea, por parte da massa do eleitorado, das principais candidaturas em disputa não parece bastante para explicar a reviravolta no quadro sucessório. Algum efeito também deve ter surtido a estratégia da candidatura de José Serra de empreender contra Ciro Gomes uma campanha "negativa", tentando associar a imagem do ex-governador do Ceará à truculência e à inconsistência.
A questão agora é saber em que ponto irão parar os movimentos de ascensão de José Serra e de queda de Ciro Gomes. A candidatura da Frente Trabalhista, ao que consta, deve adotar o mesmo tipo de estratégia de que se valeu a propaganda da chapa governista -o ataque ao adversário.
No plano político, deve ficar em suspenso uma movimentação que já começava a existir, de figuras de um certo "establishment" conservador migrando para a chapa de Ciro Gomes, através da mediação de políticos como Tasso Jereissati e Jorge Bornhausen. Um ramo da centro-direita sedento de governismo, se mantiver a prudência que sempre o caracterizou, vai aguardar uma definição mais clara sobre o segundo lugar e a passagem para o turno final.



Próximo Texto: Editoriais: SOMBRAS SOBRE 2003


Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.