São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O novo mundo

JOHANNESBURGO - A sensação que se tem ao comparar a Eco-92, do Rio de Janeiro, e a Rio +10, em Johannesburgo, é que a cruzada ambientalista andou para a frente e o mundo andou para trás.
Antes mesmo do início da conferência, já soava estranho o grito do ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho. Ele nem se iludia com avanços, só pensava em impedir retrocessos. E estava coberto de razão. É tudo o que se faz por aqui.
Em 1992, o mundo assistia, inebriado, ao fim da Guerra Fria e à queda do Muro de Berlim. O tempo de prisões políticas e torturas já se esgotara na América Latina. Os temas politicamente corretos eram a preservação da natureza e o combate à pobreza.
O ambiente, pois, era perfeito para um enorme avanço: o conceito universal de "desenvolvimento sustentável", unindo os interesses do crescimento econômico à salvação do ar, do mar, dos rios, da biodiversidade.
Passados dez anos, o valor da preservação da natureza se embrenhou pelos países e por milhões de consciências em todo o mundo, mas a pobreza resiste cruel e cortante. Porque só o desenvolvimento sustentável, enquanto conceito, não rompeu a barreira da ganância e da má distribuição de renda. O que só se agrava com a tal globalização.
A Rio +10, portanto, é uma tentativa de resgatar valores da Eco-92 e de estabelecer metas para que cada país assuma a sua responsabilidade. E uma oportunidade para atualizar o ambiente de discussão, hoje centrado nas finanças, na economia, no comércio. No novo milênio, o "muro de Berlim" é entre regiões, países e pessoas. Ou, para usar uma expressão adequada ao cenário: o apartheid é social e global.
A boa notícia é que a Rio +10 tem o fantástico poder de multiplicar idéias e de cutucar culpados. E a má é que, sem avançar na questão da economia, dos recursos, da tecnologia, nada feito. Só faltam quatro dias para o resultado, pois a festa acaba na quarta-feira. Depois, é esperar a Rio +20. Quem sobreviver verá.



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