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MELCHIADES FILHO
PT e saudações
BRASÍLIA - O PT sempre lidou
com a realidade de modo dualista e
terminante. Sua história pode ser
representada por uma seqüência de
discursos "nós x eles": esclarecidos
x alienados, éticos x corruptos e,
agora, pobres x ricos.
Nada melhor, para um partido
com essa vocação, do que o cenário
político atual, demarcado entre lulistas (ou adesistas e mensaleiros) e
oposicionistas (ou golpistas e cansados), sem meio-termo, certo?
Errado. Se as coisas se simplificaram no campo dos signos, no que
diz respeito à atuação palaciana
elas ficaram bem mais complexas.
Queiram ou não os petistas, Lula
abraçou a coalizão. O partido, cuja
direção se confundiu com o núcleo-duro do governo no primeiro mandato, hoje é só um dos dois pilares
da base -o outro é o PMDB. Ainda
que heterogênea, a aliança está longe de registrar fissuras. Enquanto o
presidente for popular, dificilmente alguém pula do barco. As eleições
municipais de 2008 tendem a causar no máximo arranhões.
Para piorar, interlocutores de outros partidos é que negociam hoje
em nome do Planalto. Walfrido dos
Mares Guia, ministro da articulação, e José Múcio, líder de Lula na
Câmara, são do PTB; Roseana Sarney, líder no Senado, do PMDB.
A abordagem adotada pelo PT no
primeiro mandato não dá mais pé.
Se já é raro Lula chancelar o que
pleiteia a bancada como um todo,
que dirá o que for encaminhado separadamente pelas distintas alas.
A nova situação, em suma, exige
do partido uma coesão inédita.
Em razão disso, antes mesmo da
publicação na Folha das indiscrições do ministro Lewandowski, já
estava tudo engatilhado para que o
congresso do PT adiasse o aguardado tira-teima entre as correntes.
O discurso único de negar o mensalão não é útil apenas para atiçar a
militância ou enfrentar o espelho.
Ao reafirmar o "nós x eles" velho de
guerra, serve também, circunstancialmente, aos projetos varejistas
de todos no partido.
mfilho@folhasp.com.br
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