|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Absolvição em sigilo
Espírito corporativo, compadrio, descaso pela opinião pública. Os ingredientes de costume estiveram presentes anteontem, na
sessão da Câmara dos Deputados
que absolveu Jaqueline Roriz
(PMN-DF) da acusação de quebra
de decoro.
Votaram contra sua cassação
265 deputados. Seriam necessários 257 votos para que a deputada
perdesse o mandato, mas só 166
endossaram a punição. Houve 20
abstenções, além de 61 parlamentares ausentes, o que, na prática, é
um meio de beneficiar a acusada.
O presidente da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputado João Paulo Cunha
(PT-SP), réu no mensalão, foi um
dos que faltaram à votação.
Em março deste ano, foi divulgado um vídeo em que Jaqueline
Roriz e seu marido aparecem recebendo R$ 50 mil do ex-secretário
de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa. Foi
ele o delator do esquema de pagamento de propina que provocou a
queda do ex-governador José Roberto Arruda, no DEM à época em
que as imagens foram gravadas.
O vídeo envolvendo Jaqueline
Roriz é de 2006, anterior à sua eleição para a Câmara. Ela era, então,
candidata a deputada distrital e
alegou que os recursos eram caixa
dois da sua campanha. A Polícia
Federal sustenta que o dinheiro
vinha de empresas que tinham
contratos com o governo do DF.
A defesa da parlamentar se apegou à tese de que não haveria como punir ocorrências anteriores
ao mandato.
O relator do processo, deputado
Carlos Sampaio (PSDB-SP), deu,
no entanto, parecer favorável à
cassação. Na hipótese, argumentou, de que o Congresso viesse a
saber que um de seus parlamentares havia praticado assassinato ou
um ato de pedofilia anos antes de
concorrer ao mandato, não seria o
caso de absolvê-lo.
O julgamento da filha do ex-governador Joaquim Roriz -que renunciou ao Senado, ele próprio,
em 2007 para que não fosse cassado- é mais um escândalo a mostrar o descolamento acintoso do
Congresso (e não só dele) das demandas da sociedade pela moralização dos costumes políticos.
É lamentável que a decisão que
beneficiou Jaqueline Roriz tenha
sido tomada pelo voto secreto. O
mínimo a se exigir quando estão
em julgamento questões dessa natureza é que os congressistas mostrem a cara à opinião pública. Ainda quando for cara de pau.
Texto Anterior: Editoriais: Impostura na saúde Próximo Texto: São Paulo - Ricardo Melo: Mau começo Índice | Comunicar Erros
|