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CLÓVIS ROSSI
O cassino e a chantagem
SÃO PAULO - O valor das ações de
uma empresa na Bolsa de Valores
(ou do conjunto das empresas nela
listadas) deveria ser determinado
pelo desempenho corrente da companhia e/ou pelas expectativas a
respeito de sua performance futura. Perdão pelo óbvio, e sigamos.
Na segunda-feira, por essa lógica,
o desempenho das empresas listadas na Bolsa de São Paulo e suas
perspectivas eram tão ruins, mas
tão ruins, que o índice caiu 9,36%.
Mas, no dia seguinte, desempenho
e perspectivas melhoraram tanto,
mas tanto, que subiu 7,63%. Como é
simplesmente impossível que haja
tal mudança em tão curto espaço de
tempo, os fatos dão ao presidente
Lula toda a razão quando diz que se
trata de cassino.
Pior: é um cassino que está fazendo chantagem com o Congresso
norte-americano, tentando forçar a
aprovação de um pacote de socorro
aos gatos gordos de Wall Street, cuja ganância infinita é a causa básica
da crise. Chantagem que é apoiada
pelo presidente dos Estados Unidos, país que já foi um modelo de
democracia.
Quando Bush diz, como fez ontem, que "as conseqüências [da
não-aprovação do pacote] se tornarão piores a cada dia", está
claramente chantageando os
congressistas.
Ora, quem votou contra o pacote
apenas atendeu à opinião de seu
eleitorado, maciçamente contrário
ao salvamento dos gatos gordos. E é
assim que deveria funcionar a democracia representativa: o representante faz o que o representado
quer (ou convence o representado
de que está equivocado).
Convence-o, por exemplo, de que
está de fato em curso a "desintegração do sistema financeiro", como
diz Martin Wolf, principal colunista do "Financial Times". Parece estar, mas é com fatos, não com chantagem, que se deve argumentar.
É possível que a chantagem vingue, mas seu triunfo só fará aumentar o gosto amargo da crise.
crossi@uol.com.br
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