São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

O cassino e a chantagem

SÃO PAULO - O valor das ações de uma empresa na Bolsa de Valores (ou do conjunto das empresas nela listadas) deveria ser determinado pelo desempenho corrente da companhia e/ou pelas expectativas a respeito de sua performance futura. Perdão pelo óbvio, e sigamos.
Na segunda-feira, por essa lógica, o desempenho das empresas listadas na Bolsa de São Paulo e suas perspectivas eram tão ruins, mas tão ruins, que o índice caiu 9,36%.
Mas, no dia seguinte, desempenho e perspectivas melhoraram tanto, mas tanto, que subiu 7,63%. Como é simplesmente impossível que haja tal mudança em tão curto espaço de tempo, os fatos dão ao presidente Lula toda a razão quando diz que se trata de cassino.
Pior: é um cassino que está fazendo chantagem com o Congresso norte-americano, tentando forçar a aprovação de um pacote de socorro aos gatos gordos de Wall Street, cuja ganância infinita é a causa básica da crise. Chantagem que é apoiada pelo presidente dos Estados Unidos, país que já foi um modelo de democracia.
Quando Bush diz, como fez ontem, que "as conseqüências [da não-aprovação do pacote] se tornarão piores a cada dia", está claramente chantageando os congressistas.
Ora, quem votou contra o pacote apenas atendeu à opinião de seu eleitorado, maciçamente contrário ao salvamento dos gatos gordos. E é assim que deveria funcionar a democracia representativa: o representante faz o que o representado quer (ou convence o representado de que está equivocado).
Convence-o, por exemplo, de que está de fato em curso a "desintegração do sistema financeiro", como diz Martin Wolf, principal colunista do "Financial Times". Parece estar, mas é com fatos, não com chantagem, que se deve argumentar.
É possível que a chantagem vingue, mas seu triunfo só fará aumentar o gosto amargo da crise.

crossi@uol.com.br


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