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Sem palanques
APESAR das críticas muitas
vezes dirigidas, inclusive
por esta Folha, às excessivas taxas de juros praticadas na
economia, reconhecem-se amplamente as virtudes da austeridade e da competência técnica
na gestão de Henrique Meirelles
à frente do Banco Central.
Filiando-se ao PMDB, Meirelles prepara os próximos passos
de sua carreira pública. Abandonado, ao que parece, seu projeto
de candidatar-se ao governo de
Goiás -o prefeito de Goiânia,
Iris Rezende, detém primazia
neste ponto-, o presidente do
BC seria no mínimo um nome
peemedebista forte para o Senado em 2010.
A circunstância de estar filiado
a um partido político não constituiria, em tese, impedimento para que Meirelles continuasse no
cargo. Todavia, seu propósito de
candidatar-se a um posto eletivo
gera apreensão quanto ao exercício de suas atuais responsabilidades.
Garantias podem ser feitas no
sentido de que a condução da política monetária não se curvará
ao influxo das alianças e aos ventos do palanque. Mas a questão
não se define em termos de conduta individual; adquire dimensões institucionais inelutáveis. A
independência do Banco Central
pressupõe absoluta distância das
atividades políticas.
Ainda que se mantenha a isenção técnica numa deliberação de
gabinete, prejuízos e dividendos
políticos contabilizam-se nos
pronunciamentos e aparições de
qualquer autoridade pública. Foi
o que se viu, aliás, durante o período em que outro prócer peemedebista, Nelson Jobim, ocupava o cargo de ministro do STF.
De resto, parece felizmente ter
passado o tempo em que substituições no comando da economia eram capazes de acarretar
sérias turbulências no mercado.
Se o prestígio pessoal de Meirel-
les lhe abre perspectivas políticas, eis um motivo para que deixe o Banco Central, onde a impessoalidade e a autonomia devem prevalecer -sem palanques
por perto.
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