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KENNETH MAXWELL
Agente secreto
OS ROMANCES de Arthur
Ransome me entusiasmavam quando eu era jovem.
Costumava lê-los avidamente, repetidas vezes. Eu adorava suas histórias, repletas de acampamentos
ao ar livre, escaladas e aventuras
marinhas, e nas quais, até onde me
lembro, não apareciam adultos. No
começo dos anos 50, o escritor,
com seu espesso bigode, paletó de
tweed, chapéu de feltro e onipresente cachimbo, me parecia um
gentil e perene guardião dos meus
sonhos de infância.
Ou era essa a impressão que ele
causava. Arthur Ransome nasceu
em Leeds, em 1884. Seu pai, professor na universidade local, morreu
quando o menino tinha 13 anos. O
jovem Arthur passou boa parte de
sua juventude em Coniston Water,
no Lake District, e posteriormente
se mudou para "Norfolk Broads",
uma área de vias aquáticas interconectadas no leste da Inglaterra.
Cinco de seus romances têm o Lake District como cenário, e dois se
passavam em Norfolk. Todos esses
títulos continuam em catálogo.
Mas o escritor, morto em 1967,
tinha uma outra história. Ele também era espião, e possivelmente
agente duplo. Após vencer o célebre processo por difamação que
lorde Alfred Douglas abriu contra
ele em 1913 devido ao seu livro sobre Oscar Wilde, e de um desastroso primeiro casamento, ele escapou para a Rússia. Como correspondente do "Daily News", de Londres, e depois do "Manchester
Guardian", ele testemunhou a queda do Império Russo e os esforços
de Kerensky para sustentar um governo democrático. Ransome estava fora do país quando os bolcheviques tomaram o poder, em outubro de 1917, mas retornou logo em
seguida para registrar os primeiros
anos do regime bolchevista.
Ransome era muito amigo de
Karl Radek, o chefe da seção de
propaganda bolchevista, e se tornou um admirador ardoroso de Lênin, cujo retorno à Rússia via Estação Finlândia ele testemunhou. O
escritor era amante de Evgenia
Shelepina, a secretária pessoal de
Trótski, e apoiava a causa bolchevista, transportando dinheiro para
a Suécia e para a Estônia em nome
do regime e colaborando com a
Cheka, organização que antecedeu
a KGB. Também era o "Agente
S76" do MI6, o serviço de inteligência externa britânico.
A história dos anos que ele passou na Rússia é contada por Roland
Chambers em "The Last Englishman: the Double Life of Arthur
Ransome". Após voltar a Londres
com Evgenia, em 1924, as autoridades britânicas não conseguiam decidir se Ransome era herói ou traidor. Mas, depois do início dos anos
30, ele se tornou mais conhecido
não por seu passado, e sim como
um escritor muito amado, que cativou diversas gerações de crianças
britânicas -entre as quais eu.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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