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Política externa
Objetivos do Itamaraty estão corretos, mas sua execução perdeu-se em maniqueísmos, contradições e exibicionismo que é necessário superar
Toda política de um Estado em
face dos demais países implica
conciliar duas vertentes nem sempre acordes. De um lado, o interesse nacional, manifesto em necessidades de ordem econômica e
apoiado, em última análise, na capacidade militar. De outro, o respeito a princípios que deveriam
valer para todos os Estados.
No âmbito da civilização ocidental, a que bem ou mal pertencemos, esses princípios são os direitos humanos, a autodeterminação dos povos e a resolução negociada, pacífica até o limite extremo, dos conflitos internacionais.
Quanto mais harmônica for a
relação entre os dois termos daquele dilema, mais eficaz será a
política externa que a expressa e
mais promissora a contribuição
do Estado que a adota para a humanidade. É sob esse prisma que
se deve avaliar a administração
das relações exteriores do Brasil.
O Itamaraty tem acertado, na
gestão petista como na tucana, ao
enfatizar que o mundo evolui para
uma dinâmica multipolar de poder, e ao aproveitar oportunidades que propiciem a países em desenvolvimento maior peso nos rumos da política internacional.
Se os objetivos estão corretos, o
mesmo não se pode dizer do modo
de alcançá-los durante o período
Lula. Desvirtuou-se nossa política
externa ao ser empregada para
aplacar frustrações da militância
partidária doméstica, erro acentuado pelo maniqueísmo tosco
que tantas vezes prevaleceu nas
decisões do presidente e de seus
auxiliares.
Poucas vezes fomos tão incongruentes. Adotamos petulante rigor democrático, por exemplo, na
crise de Honduras, mesmo depois
de o país centro-americano realizar eleições livres, ao passo que
festejamos ditaduras repulsivas
como a teocracia do Irã e cultivamos, por sentimentalismo ideológico, não apenas o regime fossilizado de Cuba como seus imitadores autoritários na América do Sul.
O acervo de votos do Brasil nos
foros internacionais que tratam de
direitos humanos acumula equívocos, omissões e derrotas.
Temos um contencioso amplo e
inevitável com os Estados Unidos,
que só tende a crescer conforme o
Brasil ganha dimensão comercial
e geopolítica. Nenhum motivo recomenda incrementar artificialmente, por mero exibicionismo diplomático, uma frente de atritos já
em si considerável.
Em relação ao Oriente Médio, a
presença de expressivas comunidades de origem judaica e árabe
em nossa sociedade, conjugada à
distância que nos aparta daquela
área conflagrada, deveria ditar
uma política isenta, limitada a
apoiar a negociação entre as partes. Depois de frenéticas e fúteis
gestões numa região onde não temos interesse, perdemos isenção
e credibilidade.
Tais percalços foram compensados pelo prestígio internacional
que apesar deles continua a cercar
o presidente Lula, com base no
forte simbolismo de sua trajetória
pessoal. Um(a) novo(a) presidente terá ocasião de corrigir os rumos
de nossa diplomacia, que precisa
ser mais eficiente no apoio à expansão comercial do país e menos
contraditória na aplicação de
princípios universais.
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