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Dilma presidente
Vitória da candidata petista impõe, acima das paixões plebiscitárias e dos sectarismos, o desafio de governar para todos
Dilma Rousseff será a primeira
mulher a exercer o cargo de presidente do Brasil. Da Islândia à Argentina, passando pela Alemanha
e pelas Filipinas, a presença de
mulheres na chefia de um governo
já não ressalta pelo ineditismo,
ainda que seu número, segundo
as Nações Unidas, não alcance a
marca de duas dezenas, num total
de 192 países pesquisados.
No Brasil, onde a participação
feminina se limita a 10% do conjunto dos deputados federais eleitos em 3 de outubro, contra uma
média mundial de 19%, ganha especial significado a eleição da
postulante do PT -antecedida,
lembre-se, da expressiva votação
conquistada por Marina Silva (PV)
no primeiro turno.
Ao mesmo tempo, constitui provavelmente sinal de avanço político o fato de que esse aspecto não
tenha sido foco de exploração na
campanha eleitoral. Preconceitos
de sexo, tanto quanto as operações de marketing em torno do rótulo de "mãe dos brasileiros",
pouco mobilizaram as opiniões.
O que esteve em jogo na sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva
não constitui segredo. Foi o seu
próprio governo, cujas altas margens de aprovação garantiram,
não sem sobressaltos, a vitória da
candidata que designou.
Na condição de ministra da Casa Civil, sucedendo a José Dirceu,
Dilma Rousseff participou dos sucessos administrativos de Lula
-sem que este transferisse integralmente sua vasta porcentagem
de simpatizantes aos resultados
eleitorais da sucessora.
A circunstância de que eleitores
de José Serra também aprovem o
desempenho do presidente é um
fator que diminui, aliás, o aspecto
plebiscitário desta campanha.
Ao contrário do que pretenderam, com fortes doses de sectarismo, alguns setores mais exacerbados do PT, não proveio de uma minoria de privilegiados a significativa votação que o candidato tucano e governadores de oposição alcançaram neste pleito.
Menos do que um jogo de tudo
ou nada, no qual estariam em risco os ganhos sociais obtidos nos
últimos anos ou os bons resultados na economia, a disputa transcorreu, curiosamente, como se
houvesse duas personagens em
busca de uma polêmica.
Dentro de uma relativa convergência de objetivos mais amplos
para o futuro do país, as divisões
exaltadas de campanha podem
-e devem- retroceder, a partir de
agora, para segundo plano.
Não resta dúvida que nisto reside um dos principais reptos para a
futura presidente. Dilma Rousseff
surgiu como um nome imposto
por Lula ao mundo político, e não
deu até agora mostras de possuir
experiência política e luz própria
para liderar uma das maiores democracias do mundo.
A presidente eleita, cercada de
aliados fisiológicos e de partidários enquistados na máquina pública, contará com inédita maioria
na Câmara e no Senado -suficiente para patrocinar mudanças
constitucionais, que dependem
de 3/5 dos votos.
Tal concentração de poder requer moderação e equilíbrio, para
que seja exercida em benefício da
nação e não a favor de projetos de
poder minoritários, interessados
em minar os pilares da democracia representativa e hipertrofiar a
presença do Estado na economia e
na vida dos indivíduos.
A eleita terá tempo para refletir
acerca da formação de seu governo e do desafio nada trivial de levar o país a uma nova etapa de
desenvolvimento.
Resta desejar que tenha boa sorte e competência para isso.
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