São Paulo, terça-feira, 01 de novembro de 2011

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Comércio de ferro

A cotação do minério de ferro para pronta-entrega no mercado internacional sofreu um tombo impressionante nas últimas seis semanas, da ordem de 30%.
Dentre os vários fatores cogitados como causas da queda, dois se destacam. O primeiro, de caráter mais geral, é a onda de pessimismo em relação às perspectivas da economia global, que se traduz na expectativa de uma demanda mais fraca pelo produto.
O outro fator, mais específico, é a retração de compradores na China, premidos pelo aperto de crédito que, a fim de inibir a inflação, as autoridades econômicas locais promoveram ao longo de 2011 -e só agora esboçam reverter.
O nível de preço ao qual o minério de ferro acaba de chegar não é baixo, em comparação com a sua média histórica. Ainda assim, caso esse patamar se revele duradouro, haverá uma forte redução das receitas com a exportação do produto, desde 2010 o mais importante da pauta de exportações do Brasil.
No período de 12 meses encerrado em agosto último, as receitas de exportação de minério somaram perto de US$ 40 bilhões. Preço 30% mais baixo significaria um recuo dessa receita da ordem de US$ 10 bilhões.
Outros produtos primários bafejados nos últimos anos por demanda mais forte e, sobretudo, preços bem mais altos são a soja e o açúcar. Somados ao minério de ferro, esses produtos respondiam por 18% das receitas de exportação em 2005, proporção que subiu para 32% em 2011. Sob o peso da maré pessimista global, as cotações da soja e do açúcar também caíram nas últimas semanas, embora com menos ímpeto do que as do minério de ferro.
Esse conjunto de preços menos favoráveis pode, portanto, produzir diminuição substancial no valor das exportações brasileiras. A prosseguir esse quadro, o saldo entre exportações e importações, que caminha para encerrar 2011 nas proximidades de US$ 25 bilhões, poderá despencar em 2012.
Num mundo mais avesso a risco, a diminuição do saldo no comércio exterior tenderia a ser acompanhada pela elevação do dólar.
O alívio para a inflação advindo do barateamento da comida e dos insumos seria, se não anulado, ao menos amortecido pela desvalorização do real. Se a resultante dessa equação está fora da alçada da política econômica brasileira, o controle dos gastos públicos não está.
Aplicar a rédea curta no Orçamento é a única garantia de uma transição menos acidentada da economia brasileira ao novo e mais complicado cenário mundial.


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