São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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A escolha de Lula


Sem domar pressões sindicais e políticas na Petrobras, investimento no pré-sal correrá sérios riscos durante a crise

O GALOPE no preço do petróleo favoreceu a acomodação nas empresas do setor. A preocupação com controle de custos, ganhos de produtividade e a chamada governança corporativa pôde ficar em segundo plano enquanto a disparada na cotação premiava a todos sem distinção.
A vertiginosa inversão dessa tendência de preços no segundo semestre deste ano altera radicalmente esse quadro.
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o governo -e, por conseguinte, a direção da Petrobras-, o barril do petróleo tipo WTI ("West Texas Intermediate") em Nova York custava US$ 22,55. Quatro anos depois, quando a gestão petista iniciava o segundo mandato, a cotação havia sido multiplicada por três. A escalada se acentuou até o início de julho de 2008, quando o barril foi negociado acima de US$ 140, para dar lugar à abrupta derrocada: na sexta, o WTI fechou em US$ 54,43.
O choque atinge todas as companhias de petróleo do mundo. Corporações que registraram os maiores lucros da história ao longo deste ano viram-se diante de um estrangulamento repentino. A Petrobras, que lucrou R$ 10,9 bilhões de julho a setembro, teve de recorrer, no trimestre seguinte, a empréstimos inusuais com bancos públicos para satisfazer necessidades de caixa.
O tempo de fartura de capital para empresas de petróleo, baseado na escalada sem precedentes nos preços, chegou ao fim. Esse fato levou a Petrobras a rever seus investimentos. Como informou Valdo Cruz, ontem nesta Folha, a estatal pretende diminuir os dispêndios na implantação de duas refinarias, a fim de sustentar os gastos na exploração das novas reservas, situadas em águas ultraprofundas, abaixo da camada de sal.
Do ponto de vista empresarial, a opção é razoável. A dificuldade de ampliar as reservas é um dos maiores gargalos estratégicos por que passam os maiores petroleiras do planeta. A Petrobras, por conta das descobertas no pré-sal em áreas já licitadas, detém um trunfo nesse aspecto. Faz sentido preparar tais campos para que produzam a pleno em cinco ou seis anos, quando o regime de preços do petróleo provavelmente será outro.
Mesmo assim, continuará o problema de encontrar fontes para as vultosas injeções de capital de que o Brasil necessitará, a fim de desenvolver o pré-sal. Investidores, brasileiros e estrangeiros, serão muito mais seletivos ao escolher as empresas nas quais aplicar recursos. E o empreguismo que voltou a assolar a Petrobras nos últimos anos será um ônus para a estatal brasileira nesse ambiente competitivo.
A empresa aumentou 38% seu quadro de funcionários desde a posse de Lula. A disparada dos custos trabalhistas da estatal no terceiro trimestre-principal motivo para o aumento de R$ 2,4 bilhões nas despesas operacionais no período- deu motivo a desvalorizações adicionais de suas ações em Bolsa.
Lula tem de escolher: ou submete o corporativismo sindical e o aparelhismo petista na Petrobras, ou as promessas grandiosas do governo sobre o pré-sal estarão sob sério risco.


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