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MARCOS NOBRE
Peemedebização
COM AS IMAGENS do governador do panetone com a mão
na massa, a longa derrocada
do PFL chegou a seu fim. Travestido de DEM desde 2007, a dissidência do partido oficial de sustentação da ditadura militar está no caminho de se tornar um partido médio como tantos outros.
O diferencial do PFL era o seu
peso na aliança sólida com o PSDB
desde a eleição de FHC. Em 1995,
essa aliança tinha de saída uma base de 184 deputados federais, que
subiu ainda para impressionantes
204 deputados em 1999.
Esse diferencial desapareceu nas
últimas eleições. O desespero de
parte dos demos para que o PSDB
lançasse logo o candidato presidencial era o de quem sabe que está
para cair da primeira divisão dos
grandes partidos.
A contrapartida desse declínio é
a resistível ascensão do PMDB. O
jogo entre os dois grandes polos da
política está zerado. Não só o PT,
mas agora também o PSDB passou
à condição de refém do PMDB.
O que ainda hoje sustenta a política institucional em qualquer país
democrático é que ninguém chega
ao governo se não for capaz de
mostrar um rumo a seguir, por
mais vago que seja. Governo ainda
é sinônimo de capacidade de formulação, debate e implementação
de políticas. Não é à toa que o
PMDB não tem candidatura própria há 15 anos.
As quatro candidaturas presidenciais postas até agora têm lastro de formulação política. Seja
porque as pessoas em questão têm
visão de conjunto do país, seja porque dispõem de burocracias partidárias capazes de produzir um discurso relativamente homogêneo e
unitário. Mas o problema é que nenhuma delas até agora dá mostras
de como seria possível contornar o
PMDB. E, sem contornar o PMDB,
quem governar vai continuar como
laranja da avacalhação geral da
política.
Claro que o PMDB não é raio em
céu azul. Tem força eleitoral. Mas
consegue essa posição porque parasita governos e diretrizes políticas alheias, sejam quais forem. É o
mais autêntico produto da política
em dois polos instalada desde 1994.
Combina à perfeição balcão de negócios e cara de pau
Não é de hoje que convivemos
com o mau cheiro da política brasileira. Mas a sensação de que não há
como escapar dele chegou a uma
espécie de ápice. A política brasileira só sai da autofagia em que se
encontra se romper com a sua
peemedebização.
Porque, seja com o artigo deplorável de César Benjamin, seja com
o vídeo de José Roberto Arruda, seja com as ininterruptas denúncias
contra Sarney e os seus que não
dão em nada, seja com a voz que
imita Lula em propaganda de papel
higiênico, é da peemedebização da
política que se está falando.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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