|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Togas de molho
BRASÍLIA - Em 2004, deve se aprofundar o processo de avaliação e até
de depuração da magistratura brasileira. O juiz, ser intocável, acima do
bem e do mal, caiu do pedestal e está
sob julgamento público. É bom para
o país, para a instituição e, principalmente, para o próprio juiz "do bem".
No imaginário popular e em boa
parte do Brasil, o juiz era (em alguns
casos, ainda é) aquele cidadão sisudo, erudito, justo, cuja honra jamais
seria colocada sob suspeita. Ele estava (está) nas solenidades, nos casamentos, nas festas públicas e privadas, ao lado do prefeito e do padre.
Na realidade e na atualidade, com
cerca de 13 mil juízes no país, essa
imagem já não é tão impermeável.
Reportagem da Folha no último dia
22 mostra que pelo menos 14 magistrados estão sob acusação de irregularidades, em seis Estados. Sem contar os investigados pela Operação
Anaconda, da Polícia Federal.
Em 2003, juízes de Norte a Sul se esgoelaram contra o controle externo
do Judiciário, a reforma da Previdência, o teto salarial e a revisão da
aposentadoria precoce, com vencimentos integrais. Na outra ponta, foi
em 2003 que a Anaconda flagrou juízes negociando sentenças, almas e a
imagem da instituição que representam. Votos para que, logo, logo, façam companhia ao juiz Nicolau dos
Santos Neto, aquele do TRT-SP.
Ninguém questiona o valor da independência do juiz numa democracia, mas tudo tem limite. Quem mais
deveria se indignar contra sentenças
absurdas, liminares suspeitas e desvios evidentes deveria ser o próprio
juiz. Em vez de mandar mensagem
contra reforma da Previdência e controle externo, que tal escrever a favor
da prisão do Lalau e de julgamentos
duros para colegas corruptos?
Sr. juiz, você que pensa mais no
país e na instituição do que em privilégios antiquados, seja bem-vindo a
2004 e ao indispensável debate sobre
o Poder Judiciário. Que ele entre em
2005 melhor do que saiu de 2003. E
em mais sintonia com o povo, que está louco para acreditar no seu prefeito, no seu padre e no seu juiz.
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Crime e sensações Próximo Texto: Rio de Janeiro - Claudia Antunes: A cidade vai bem, o povo... Índice
|