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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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EIXO DO BEM

É fato que, após o colapso da União Soviética, o mundo passou a ser dominado pela única superpotência restante, os Estados Unidos, que têm a seu lado a supremacia militar, a preponderância econômica e financeira e uma notável influência política. Diante de tamanho poder, são poucas as nações ou mesmo blocos regionais que podem ousar fazer-lhes oposição, mesmo que em nível apenas diplomático.
A União Européia (UE), até por ser constituída majoritariamente de países aliados dos Estados Unidos, é um dos poucos blocos que poderiam surgir como pólo de poder político alternativo a Washington. E, dentro da UE, quem vem dando as cartas nas duas últimas décadas são Alemanha e França, as duas principais forças econômicas e políticas da união. A questão que se coloca é até onde realmente vai a coordenação entre os dois países.
Paris e Berlim vêm obtendo, se não sucesso, pelo menos visibilidade ao fazer oposição à guerra pretendida pelo presidente George W. Bush contra o Iraque. Também lançaram uma proposta conjunta para modificar as estruturas da UE. Cabe perguntar se a cooperação é circunstancial ou duradoura.
Para os mais céticos, os interesses de cada nação falarão mais alto, e a parceria não resistirá aos atritos suscitados por temas - como política agrícola e disciplina fiscal- que ainda separam as duas nações. Para os mais otimistas, os interesses comuns de França e Alemanha, como num casamento antigo, já superam as divergências, de modo que as novas relações franco-germânicas têm substância. Seria precipitado cravar desde já uma alternativa, embora a segunda hipótese pareça ser um pouco mais verossímil.
As diferenças ainda são muitas, mesmo num caso aparentemente consensual como a questão iraquiana. Enquanto para a França é, desde De Gaulle, comum colocar-se contra a vontade de Washington, essa é uma posição nova -e difícil- para a Alemanha, que costumava alinhar-se quase automaticamente aos Estados Unidos em todas as grandes questões mundiais e, desde a derrota na Segunda Guerra Mundial, jamais voltou a ocupar lugar de destaque no cenário político internacional.
Mesmo que a cooperação entre França e Alemanha venha a enfrentar alguns sobressaltos (o que quase certamente ocorrerá), é alvissareiro constatar que dois países que travaram três grandes guerras em lados opostos das trincheiras nos últimos 150 anos possam tornar-se aliados próximos. São eventos como esse que tornam possível imaginar que, num futuro não muito longínquo, israelenses e palestinos, indianos e paquistaneses e tantos outros hoje inimigos possam talvez celebrar uma paz duradoura.


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