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CLÓVIS ROSSI
O amigo alemão
BRUXELAS - Assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou o
auditório de Davos, após discursar
domingo, o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, foi alcançado
por seu colega Caio Koch-Weser, secretário alemão das Finanças.
"Acho que ele falou pouco de estabilidade. Seria bom que você reforçasse a mensagem", aconselhou
Koch-Weser a seu colega brasileiro,
no português perfeito de quem nasceu em Rolândia (PR) e viveu até os
15 anos no Brasil.
O recado talvez fosse até dispensável, na medida em que Palocci não
tem feito outra coisa, desde antes da
vitória eleitoral, a não ser repetir o
discurso da austeridade.
Mas é de todo modo uma indicação
de que o governo do PT tem um amigo muito bem colocado, que parece
genuinamente preocupado com que
dê certo.
Parece também que Koch-Weser é
ouvido. Leio que o presidente Lula
disse aos governadores que as reformas previdenciária e tributária devem ser aprovadas no primeiro ano
de governo "ou nunca mais".
Quando esteve no Brasil, para a
posse de Lula, foi mais ou menos isso
que o secretário alemão de Finanças
disse ao presidente brasileiro. "Os remédios amargos devem ser administrados de saída", conforme reproduziu para a Folha, ainda em Davos.
Além disso, foi Koch-Weser quem
trouxe o convite para que Lula comparecesse a Davos e esticasse a viagem até Alemanha e França, as duas
principais potências européias.
É até possível que haja algum muxoxo a respeito de um suposto paternalismo alemão, ainda mais em se
considerando que Lula desenvolveu
laços com o sindicalismo e com alguns políticos alemães da social-democracia, como sindicalista e/ou dirigente do PT.
Se houver, é bobagem. Koch-Weser,
além de ser um economista ultraqualificado, é uma voz influente e, em
um mundo interdependente e cruel
como o de hoje, é melhor ter um advogado simpático por perto.
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