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ELIANE CANTANHÊDE
Agora ou nunca
BRASÍLIA - Os 513 deputados e 81 senadores empossados ontem no Congresso vão estar entre três fogos cruzados a partir do início das atividades parlamentares, dia 17.
De um lado, os interesses da União.
Apesar de ser do PT, o atual governo
é governo como qualquer outro e tem
de fechar contas no fim do ano.
De outro lado, os interesses difusos
de governadores e prefeitos, que
igualmente têm de recolher impostos
e ratear o bolo entre uma infinidade
de tarefas e serviços públicos.
E, finalmente, a outra ponta do balcão: os interessados diretos, que votam e pagam impostos e contribuições ao Estado para receber em contrapartida saúde, educação, água, esgoto, aposentadoria, pensão.
Somando tudo o que as três pontas
exigem, ou necessitam, não há conta
possível de chegada. E é justamente
aí que entram os deputados e senadores chamados por Lula a aprovar
as reformas. A tributária e a da Previdência, primeiro. A trabalhista, a
política e a agrária, um dia.
Todo mundo não se cansa de lembrar que, no seu início, Collor conseguiu apoio do Congresso até para o
sequestro da poupança. Mas, por todos os motivos, a comparação mais
consistente deste início de Lula deve
ser com o de FHC, que conseguiu o
que parecia impossível meses antes
de assumir: a quebra dos monopólios
estatais, inclusive do petróleo e das
comunicações. Hoje, parece fichinha.
Oito anos atrás, era uma heresia,
quase crime de lesa-pátria.
Só Lula, do alto de seus mais de 50
milhões de votos e cerca de 80% de
expectativas positivas, pode conseguir aprovar reformas como a da
Previdência, criando condições para
salvar o sistema. Isso significa contrariar interesses. Principalmente de
áreas delicadas -como juízes e militares- e petistas -reunidas na entidade "funcionalismo público".
Lula sabe como ninguém que é possível, mas difícil. Tem que ser já, correndo, com o Congresso recém-instalado, cheio de gás governista. Aliás,
foi o próprio Lula quem avisou aos
governadores: "Agora ou nunca".
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