São Paulo, quarta-feira, 02 de fevereiro de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Qual antiinflamatório usar?
MORTON SCHEINBERG
As medicações do grupo COX - 2 estão associadas a um menor número de efeitos adversos no sistema gastrointestinal, reduzindo a incidência de úlceras e sangramento, problema que ocorre freqüentemente na classe dos antiinflamatórios mais antigos que não inibem seletivamente a enzima COX - 2. Os eventos das últimas semanas devem ser levados em consideração. A Pfizer relatou que estudos em andamento para outras condições clínicas que não artrite e em doses substancialmente maiores do que as preconizadas para o medicamento Celebra podem aumentar o risco de eventos cardiovasculares. E por meio de análises indiretas, especula-se que o Bextra também apresente efeitos semelhantes. Em outro estudo, a medicação Flanax, que estava sendo avaliada para o mal de Alzheimer, mostrou estar associada a um maior risco de problemas cardiovasculares. Esse mesmo estudo demonstrou que o Celebra não apresentou aumento na incidência de problemas cardiovasculares. Diante dessa situação, permanece a dúvida: qual antiinflamatório deve ser prescrito, perante essas novas informações que, apesar da ampla publicidade que recebeu na mídia, ainda são preliminares? A escolha do antiinflamatório que o médico irá receitar deve ponderar alguns pontos. O primeiro deles é que os antiinflamatórios mais antigos possuem eficácia semelhante às novas no combate da inflamação aguda e crônica. O segundo ponto refere-se ao tempo de uso da medicação e às doses utilizadas. Habitualmente, por períodos curtos, mesmo em doses mais elevadas, as drogas COX - 2 não estão associadas a efeitos adversos para o sistema cardiovascular. A agência que regula medicamentos nos Estados Unidos (FDA), há algumas semanas publicou uma lista de recomendações sobre como e quando usar este novo grupo de medicamentos. A lista foi criada pelo conselho de saúde pública da FDA. Chegou-se à conclusão de que os benefícios da classe dos inibidores da COX - 2 superam os riscos individuais. Por isso, se um paciente já está usando o produto, não deve parar. O paciente deve ser acompanhado de perto, com um maior monitoramento do quadro cardiovascular. A segunda recomendação foi a de que os pacientes com maior risco de efeitos adversos para o estômago e que não estejam indo bem com os antiinflamatórios convencionais devem usar os novos. E, por último, a FDA avaliou que os riscos cardiovasculares devem ser analisados individualmente. A FDA recomenda que todos os pacientes que utilizarem um antiinflamatório por mais de dez dias devem entrar em contato com o seu médico. Se formos levar a última recomendação da FDA ao pé da letra, seria necessário, primeiramente, coibir a venda de antiinflamatórios sem receita médica no país -o que ocorre livremente em todas as farmácias brasileiras, salvo raras exceções. Hoje, as farmácias participam da escolha de qual medicamento o paciente deve tomar, mesmo sem ter todas as informações necessárias para tomar tal decisão. Se os próprios médicos podem estar confusos com a rapidez e volume de informações que estão surgindo, como os farmacêuticos poderão tomar uma decisão tão importante? Levando-se em consideração todas essas informações e a celeuma instaurada em meio à classe médica e aos pacientes, talvez essa nova classe deva ser usada com cautela até que dados confiáveis e definitivos sejam divulgados e esclareçam, de uma vez por todas, quais são os efeitos adversos desses medicamentos, quando eles ocorrem e em qual período e dosagem. Todos os medicamentos apresentam efeitos colaterais. O importante é usar essa informação para avaliar qual é o melhor medicamento para cada paciente. Mas para isso é preciso de informação, o que ainda não temos. A mídia tem divulgado muito sobre esse assunto, porém essas informações estão assustando os pacientes e não dizem que, na verdade, ainda são dados preliminares e que nada está comprovado. Talvez a mídia devesse ter mais cautela. E os médicos, também. Morton Scheinberg, 60, médico clínico e pesquisador em reumatologia e imunologia do Hospital Israelita Albert Einstein, PhD (Universidade de Boston/EUA), professor livre docente (USP) e diretor científico do Hospital Roberto Abreu Sodré (AACD), é presidente do Colégio Americano de Clínica Médica - região Brasil. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Boris Fausto: O "juridiquês" e outras falas Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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