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RUY CASTRO
Gatos
RIO DE JANEIRO - Na semana
passada, sem medir as consequências da cobertura, os jornais se atiraram com unhas e dentes à história do gato Billy, que recebeu R$ 20
por mês do Bolsa Família, em Mato
Grosso do Sul, durante cinco meses.
Resultou que Billy teve o seu bom
nome manchado pela história, porque houve quem o imaginasse cúmplice do malandro que se dizia seu
dono, o qual embolsou R$ 100 e
nem usou parte do dinheiro para
lhe comprar um grão de ração.
Não que Billy topasse se locupletar. Os gatos são caçadores, não precisam do Bolsa Família. São também altivos e independentes, dispensam esmolas suspeitas. Um gato nascido e criado em apartamento, se solto de repente na rua, encontrará o que matar para comer,
nos parques ou nos quintais. Jamais irá mendigar comida na porta
dos fundos dos restaurantes.
E precisamos parar com essa história de chamar de "gato" as ligações clandestinas. O nome certo é
"gatilho" -"gato" é uma corruptela
que leva a confusões perigosas, como, há anos, um infeliz comercial
de TV que mostrava uma caçada a
gatos de morro por linchadores
equipados com cães.
Não também que os gatos estejam aflitos com isso. Eles são valentes, sabem se defender e, em situações de risco, recuperam de estalo a
cultura de seus ancestrais selvagens. Aliás, o gato não deixou de ser
selvagem. Aconteceu apenas que,
como o neourbanoide que se tornou, ele desenvolveu uma nova e
deliciosa identidade doméstica.
Alguém me perguntou -já que
acho o gato tão esperto e safo- por
que ele não consegue descer da árvore e tem de chamar o bombeiro.
"Mas espere aí, não é o gato que
chama o bombeiro", argumentei. É
o dono dele, que fica afobado à toa e
não vê que o gato só não desceu da
árvore porque ainda não achou que
fosse hora.
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