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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Choque de biografias
SÃO PAULO - O discurso eleitoral
do PT já se fixou em torno da comparação entre os governos de Lula e
FHC. Simplificado ao máximo, ele
insiste na ideia de que "eles" (tucanos) governavam para os ricos, e
"nós" (petistas) governamos para
os pobres (ou para todos).
Essa estratégia está em curso e foi
usada de maneira ostensiva no programa de TV petista, no final do ano
passado. Dizer, à moda tucana, que
o mundo real é mais complexo ou
que tudo na vida é "um processo"
pode até sensibilizar a USP, mas dificilmente vai atrair os votos que
importam.
O mote do contra-ataque que o
PSDB ensaia na verdade é outro. Interessa aos tucanos contrastar as
biografias, não os governos. Serra
contra Dilma, e não Lula contra
FHC. É o que fez no domingo o
cientista político Sergio Fausto, diretor-executivo do iFHC, no artigo
"Liderança à altura", publicado em
"O Estado de S. Paulo".
Lá, Fausto diz que Serra, ao contrário de Dilma, é alguém "cuja liderança não terá de ser forjada a golpes de marketing eleitoral", pois já
"precede a sua candidatura". O tucano teria, além da legitimidade
formal para governar, que se conquista nas urnas, uma "legitimidade substantiva", que "só a biografia
política pode conferir".
Sobre Dilma, o tucano questiona:
"Que cargos eletivos disputou?
Quando e onde foi testada nas habilidades que se requerem de uma
pessoa que almeja ocupar o principal cargo político do país?". Diante
da temeridade de enfrentar Lula, o
PSDB busca descredenciar sua pupila. Vejam -dizem eles- o "artificialismo" dessa candidatura, que
nasce da escassez de nomes no PT.
É um argumento válido. Mas alguém deve perguntar se o fenômeno Gilberto Kassab não é uma liderança sem "legitimidade substantiva", forjada "a golpes de marketing"? A não ser que os tucanos digam que a Prefeitura de São Paulo é
desimportante e qualquer um pode
ocupá-la, ainda precisam defender
a escolha da "Dilma de Serra", inclusive debaixo d'água.
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