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CARLOS HEITOR CONY
A possibilidade do impossível
RIO DE JANEIRO - Para conquistar uma mulher, tudo é possível, todos os
meios podem tornar-se válidos, dependendo de circunstâncias de tempo, lugar e modo. Para conquistar o
poder, também tudo é possível.
Por isso mesmo, Maquiavel estudou as duas possibilidades -em forma de ensaio e de peça teatral. Em ""O
Príncipe", tratou de forma conceitual
da luta pelo poder, incluindo a sua
manutenção operacional. Em ""A
Mandrágora", o gênio florentino fez
o mesmo, apenas o objeto de cobiça
não era o poder, mas a mulher -e a
mulher alheia, ainda por cima.
Penso nisso ao ver as recentes manobras de dois partidos que, na prática política imediata, parecem pólos
opostos: o PSDB e o PT. Dependendo
do ponto de vista do observador, eles
encarnam os tradicionais princípios
do Bem e do Mal, do anjo e do demônio, do ser e do não-ser.
Contudo os acidentes da jornada
de um e de outro partido ensinaram
alguma coisa a ambos. O PSDB, após
quase dez anos de poder repartido
com um antagonista ideológico (o
PFL), está desgastado e necessita de
uma volta às origens.
O PT, por sua vez, desgastou-se por
aí, perdendo três disputas presidenciais e abrindo rachas incuráveis entre as suas facções que, dia a dia, se
tornam adversárias.
Surge então a possibilidade do impossível. As espinhas dorsais de um e
de outro partido reconhecem que, no
passado, não foram tão inimigos como parecem. Pelo contrário. O ponto
de partida que fez nascerem PSDB e
PT (um atuando nas massas operárias, outro nos setores elitistas da
classe média) foi comum: a luta contra a ditadura militar.
As últimas manobras dos líderes tucanos e petistas, a pretexto de um
programa comum de segurança e
contra a violência, é um passo para
que os dois se entendam na hora da
conquista do poder, para um, e da
permanência no poder, para o outro.
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