São Paulo, sábado, 02 de março de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

A possibilidade do impossível

RIO DE JANEIRO - Para conquistar uma mulher, tudo é possível, todos os meios podem tornar-se válidos, dependendo de circunstâncias de tempo, lugar e modo. Para conquistar o poder, também tudo é possível.
Por isso mesmo, Maquiavel estudou as duas possibilidades -em forma de ensaio e de peça teatral. Em ""O Príncipe", tratou de forma conceitual da luta pelo poder, incluindo a sua manutenção operacional. Em ""A Mandrágora", o gênio florentino fez o mesmo, apenas o objeto de cobiça não era o poder, mas a mulher -e a mulher alheia, ainda por cima.
Penso nisso ao ver as recentes manobras de dois partidos que, na prática política imediata, parecem pólos opostos: o PSDB e o PT. Dependendo do ponto de vista do observador, eles encarnam os tradicionais princípios do Bem e do Mal, do anjo e do demônio, do ser e do não-ser.
Contudo os acidentes da jornada de um e de outro partido ensinaram alguma coisa a ambos. O PSDB, após quase dez anos de poder repartido com um antagonista ideológico (o PFL), está desgastado e necessita de uma volta às origens.
O PT, por sua vez, desgastou-se por aí, perdendo três disputas presidenciais e abrindo rachas incuráveis entre as suas facções que, dia a dia, se tornam adversárias.
Surge então a possibilidade do impossível. As espinhas dorsais de um e de outro partido reconhecem que, no passado, não foram tão inimigos como parecem. Pelo contrário. O ponto de partida que fez nascerem PSDB e PT (um atuando nas massas operárias, outro nos setores elitistas da classe média) foi comum: a luta contra a ditadura militar.
As últimas manobras dos líderes tucanos e petistas, a pretexto de um programa comum de segurança e contra a violência, é um passo para que os dois se entendam na hora da conquista do poder, para um, e da permanência no poder, para o outro.


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