São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Crescer não é risco

Com inflação sob controle, BC poderia baixar mais os juros a fim de deter a tendência de valorização do real

SÃO NÍTIDOS os sinais de que a atividade econômica se mantém em expansão neste início de ano.
Embora ainda não tenham sido divulgados os dados agregados mais representativos -como a Pesquisa Industrial Mensal e a Pesquisa Mensal do Comércio, ambas do IBGE-, a maioria dos indicadores já conhecidos (como a produção de aço e de automóveis, a expedição de embalagens e o tráfego de veículos de carga) evoluiu positivamente de dezembro para janeiro.
Os levantamentos relativos às expectativas e à confiança de empresários e consumidores corroboram a perspectiva de continuidade da expansão das vendas e (em ritmo mais lento) da produção. Essa constatação, sem dúvida positiva, chega porém a suscitar preocupação quanto ao uso que dela poderá ser feito pelos responsáveis pela condução da política monetária.
O histórico recente das suas decisões justifica o temor de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central -que irá se reunir na próxima quarta para deliberar a respeito da taxa de juros básica- enxergue na continuidade do crescimento um motivo para novamente determinar corte mínimo da taxa Selic.
Ocorre, no entanto, que o crescimento ora em curso não põe em risco o controle da inflação, o que se reflete nas expectativas do mercado sobre o regime de preços, as quais continuam a refluir.
O temor com freqüência invocado pelo BC é de que a procura por bens e serviços se expanda a ponto de superar a capacidade de oferta da economia, gerando elevações de preços. Caberia ao Copom agir para limitar o ritmo de expansão da demanda antes que tal quadro viesse a se configurar.
Dois elementos, sobretudo, limitam esse risco na atual conjuntura. O primeiro é o avanço do investimento, evidenciado pelos dados relativos ao PIB de 2006 e refletido na evolução do nível de utilização de capacidade produtiva na indústria. Nenhum dos levantamentos disponíveis aponta para a iminência de surgimento de restrições de oferta.
O outro fator que limita o perigo de que a expansão da demanda se traduza em surto inflacionário é o crescimento, impressionante, das importações.
A cotação cambial é um terceiro elemento a indicar uma situação de conforto para o controle da inflação. A pressão de valorização adicional do real se intensificou nas primeiras semanas do ano. Mesmo as turbulências financeiras desta semana produziram repique pouco relevante na cotação do dólar -indicando probabilidade de que a tendência de baixa da moeda americana logo volte a preponderar.
Esse conjunto de elementos indica ser ainda bastante ampla a margem para reduzir a taxa Selic. Um corte mais rápido, ademais, permitiria ao BC moderar as imensas (e custosas) compras de dólares por meio das quais busca deter os vetores de apreciação do real.
Com inflação sob nítido controle, a política monetária poderia reconhecer no câmbio o fator que hoje acarreta mais riscos à aceleração sustentada do crescimento econômico.


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