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Crescer não é risco
Com inflação sob controle, BC poderia baixar mais os juros a fim de deter a tendência de valorização do real
SÃO NÍTIDOS os sinais de
que a atividade econômica se mantém em expansão neste início de ano.
Embora ainda não tenham sido divulgados os dados agregados mais representativos -como
a Pesquisa Industrial Mensal e a
Pesquisa Mensal do Comércio,
ambas do IBGE-, a maioria dos
indicadores já conhecidos (como
a produção de aço e de automóveis, a expedição de embalagens
e o tráfego de veículos de carga)
evoluiu positivamente de dezembro para janeiro.
Os levantamentos relativos às
expectativas e à confiança de
empresários e consumidores
corroboram a perspectiva de
continuidade da expansão das
vendas e (em ritmo mais lento)
da produção. Essa constatação,
sem dúvida positiva, chega porém a suscitar preocupação
quanto ao uso que dela poderá
ser feito pelos responsáveis pela
condução da política monetária.
O histórico recente das suas
decisões justifica o temor de que
o Comitê de Política Monetária
do Banco Central -que irá se
reunir na próxima quarta para
deliberar a respeito da taxa de juros básica- enxergue na continuidade do crescimento um motivo para novamente determinar
corte mínimo da taxa Selic.
Ocorre, no entanto, que o crescimento ora em curso não põe
em risco o controle da inflação, o
que se reflete nas expectativas do
mercado sobre o regime de preços, as quais continuam a refluir.
O temor com freqüência invocado pelo BC é de que a procura
por bens e serviços se expanda a
ponto de superar a capacidade de
oferta da economia, gerando elevações de preços. Caberia ao Copom agir para limitar o ritmo de
expansão da demanda antes que
tal quadro viesse a se configurar.
Dois elementos, sobretudo, limitam esse risco na atual conjuntura. O primeiro é o avanço
do investimento, evidenciado
pelos dados relativos ao PIB de
2006 e refletido na evolução do
nível de utilização de capacidade
produtiva na indústria. Nenhum
dos levantamentos disponíveis
aponta para a iminência de surgimento de restrições de oferta.
O outro fator que limita o perigo de que a expansão da demanda se traduza em surto inflacionário é o crescimento, impressionante, das importações.
A cotação cambial é um terceiro elemento a indicar uma situação de conforto para o controle
da inflação. A pressão de valorização adicional do real se intensificou nas primeiras semanas do
ano. Mesmo as turbulências financeiras desta semana produziram repique pouco relevante na
cotação do dólar -indicando
probabilidade de que a tendência
de baixa da moeda americana logo volte a preponderar.
Esse conjunto de elementos
indica ser ainda bastante ampla a
margem para reduzir a taxa Selic. Um corte mais rápido, ademais, permitiria ao BC moderar
as imensas (e custosas) compras
de dólares por meio das quais
busca deter os vetores de apreciação do real.
Com inflação sob nítido controle, a política monetária poderia reconhecer no câmbio o fator
que hoje acarreta mais riscos à
aceleração sustentada do crescimento econômico.
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