São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Adaptar para sobreviver

NEM TODOS, no governo Lula, foram tomados de surpresa pelas previsões sobre aquecimento global do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), ligado à ONU. Prova disso foi a divulgação, na terça, do estudo "Mudanças Climáticas Globais e seus Efeitos sobre a Biodiversidade".
O documento havia sido encomendado em 2004 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), seu alerta precisa agora produzir efeitos concretos em outros prédios da Esplanada.
São preocupantes os impactos no Brasil da elevação da temperatura global causada pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento. O relatório do MMA prediz que, no país, esse aumento pode alcançar 4C até 2100. No pior cenário, a Amazônia se aqueceria 8C, ameaçando a sobrevivência de metade da floresta, e o semi-árido nordestino poderia "aridizar-se" de vez.
No Sudeste, ainda que a previsão seja de aumento geral da precipitação, há risco de faltar água para a agricultura. Tanto pode mudar a distribuição sazonal das chuvas quanto se dá como certo que a temperatura mais alta diminua a disponibilidade hídrica, com aumento da evaporação. Num país que depende do agronegócio e sonha tornar-se a Arábia Saudita dos biocombustíveis, dispara um sinal de alarme.
No lançamento do estudo, a ministra Marina Silva propôs adotar um plano nacional de adaptação à mudança climática, no que tem de previsível e inevitável. Independentemente das convicções ambientalistas do governo, tal programa se impõe já por razões pragmáticas.
A rigor, tal preocupação já deveria constar no PAC. A capacidade de articular aceleração do crescimento com questões ambientais, contudo, ainda escapa aos planejadores em Brasília.


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